sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sufoca-me em Ti


De tudo que uma pessoa pode oferecer a alguém,
tudo que eu te peço é um abraço.
Um abraço apertado, daqueles que só você pode me dar.
Abraço carinho, afeto,
Abraço proteção.
Bem apertado, como se nunca fosse soltar,
e, se quiser, nunca me solte.
Se você quiser, eu não faço objeção,
eu me deixo segurar, eu me deixo prender,
eu me deixo ficar entre seus braços,
seus braços, abraço.
Meu rosto em seu ombro, sinto o perfume em seu pescoço,
enquanto suas mãos acariciam minhas costas,
O seu carinho. O seu abraço.
Me proteja, me guarde, me faça seu,
Faça de mim o que quiser.
Serei seu,
Por um preço bem singelo.
Um sorriso, um abrigo.
Um abraço.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Apenas Mais Um


Joguete, marionete, existência vazia, pronta pra ser manipulada, modelada, completamente modificada.
Pessoa perdida em devaneios, sem anseios, sem desejos.
Seguindo em frente apenas porque continua a respirar.
Não vê futuro, apenas os passos que dá para chegar em qualquer lugar, para ali ficar, apenas por estar, para mostrar que vive, que sonha, que tenta, que faz... Que nada, não faz é coisa alguma.
Os outros mostram suas garras, ele se deixa arranhar, e a falta de caráter dos que o rodeiam parece nunca o machucar.
Mas é que lá dentro dele, ele tentava guardar, todas as dores, problemas, raivas e decepções, mantendo todo o rancor incubado, guardado, inexplorado pensando no dia em que fosse explodir de tanta fúria, e dor, e mágoa, e pavor.
Ele guardou e manteve tudo escondido, silenciado, guardado lá nos confins dele mesmo,
e de tanto prender, esconder, ele acabou se perdendo em si mesmo.
Agora ele é só um fruto do silêncio, da escuridão. Não mais vive, apenas existe, habita, respira, se alimenta.
Sem propósitos, sem objetivos, sem sonhos, sem explicação de ser.
Ele é vazio, oco, sem perspectiva, sem vida. Ele deixa que os outros façam dele o que quiserem, não reage contra, apenas age a favor daqueles que querem o destruir, que querem vê-lo reagir. Ele não reagirá, pois é joguete, marionete, existência vazia, pronta pra ser manipulada, modelada, completamente modificada.
E assim permanecerá.

domingo, 24 de agosto de 2008

Eu Me Transformo em Outros


Às vezes eu acho que eu tenho algum distúrbio emocional, pois em questão de minutos, eu passo de uma euforia suprema para uma tristeza incontrolável. Eu não tenho controle sobre mim mesmo, algo que eu queria ter, de verdade. Vejo tantas pessoas que sabem disfarçar quando estão bem, mal, incomodadas, a vontade, sabem fingir muito bem. Eu não. Meus olhos me entregam, meus atos me revelam, eu não sei me controlar. Mesmo que não seja pessoalmente, é mais forte do que eu. Eu me denuncio.

É estranho como aquilo que me faz sorrir é tão facilmente nublado por aquilo que me deixa pra baixo, e vice-e-versa, tão fácil trocar uma sensação por outra, trocar um sentimento por outro, tão simples. Não que eu seja volúvel, de esquecer paixões, anseios e desejos como se não significassem nada. Não, não é nesse sentido que me refiro. Me refiro àquelas sensações, aquelas coisas causadas por atos, e que despertam em nós diferentes sentimentos. Porém, as pessoas costumam manter aquele humor, aquele semblante. Em mim não, ele evanesce e é substituído como se nunca tivesse sequer existido.

Bipolaridade, talvez seja esse o nome. Ou não algo tão grave, mas enfim. Um dia eu me descontrolo, um dia eu me compreendo, um dia eu acho um ponto de equilíbrio. Ou quem sabe, um dia eu me divida em vários dentro de um só. E cuidado, nesse dia eu talvez não lembre mais seu nome.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Tudo Que Não Tem Conserto

"E você disse: - Eu sei que isso irá doer,
mas se eu não quebrar seu coração,
as coisas só irão piorar.
Se a carga estiver muito pesada para carregar,
lembre-se:
O final justificará a dor que foi necessária para nos trazer aqui.”
Relient K - Let It All Out


Conversar. Ele disse que queria conversar. E no meu interior, eu já sabia o que ele queria conversar, e talvez eu não devesse ir. Eu não queria ir, eu não queria ouvir, não queria saber. Quem sabe se eu não fosse, ele teria mais tempo pra pensar, não é?
Talvez não, pra quem eu estava mentindo? No fundo, eu sempre soube. Eu sempre soube que na verdade tudo aquilo seria passageiro, momentâneo. Fogo. Que queima, arde, deixa sua marca, mas é apagado... E as cinzas, são só as cinzas, que você varre e esquece depois de um tempo. Talvez pra ele. Não para mim.
Eu sempre soube também, que apesar das tentativas de me corresponder, os sentimentos não eram iguais. E eu me questiono, será que eu sou tão ruim a ponto de não conseguir cativá-lo para permanecer comigo?
Porém, talvez não seja minha culpa... Porque eu também sei, que mesmo não mais comentando sobre ele, aquele antigo sentimento ainda permanece dentro dele. O outro amor, na verdade, o verdadeiro amor, e talvez seja impossível de vencê-lo... pelo menos agora, a curto prazo, no momento que o sentimento está forte em mim.
Talvez ele nunca acabe, e eu me oferecerei a esperar, esperar por tudo que ele está passando, não sei se ele irá aceitar, mas eu sei que o que eu sinto existe a muito tempo e não será agora que irá acabar.
Mas teria que acontecer algo. Eu teria que enfrentar a verdade, conversar. Cada passo que eu dava para ir até onde ele me esperava, era mais curto, querendo aumentar a distância, distanciar-me do fim. Chegando mais perto, eu já o via sentado, de costas, no banco. Aquele mesmo banco de sempre, um círculo de bancos todos iguais, mas nós sempre estávamos no mesmo, era sagrado. Ele estava sentado no encosto, com as costas curvadas, e os cotovelos apoiados nos joelhos, com os pés sobre o assento. Eu sorri, ele sempre do mesmo jeito. Tão lindo, mesmo de costas.
Chegando até ele, abracei-o por trás, e ele veio com o corpo e encostou suas costas no meu peito, e de olhos fechados, encostou seus lábios nos meus. Tentei prosseguir com o beijo, mas ele não permitiu, distanciando sua boca da minha. Olhou pra mim com um olhar que não pertencia ao garoto feliz e amável que estava sempre ao meu lado, mas a alguém cansado, triste, se sentindo bastante pra baixo... Era assim que eu via ele, e isso aumentou ainda mais o meu medo do que viesse a acontecer. Ele pegou na minha mão, e pediu para que eu ficasse na frente dele, e sem rodeios, começou a falar.
- Sabe, existem coisas que não são simples de apagar da vida de alguém. Existem coisas que aconteceram muito recentemente comigo que eu simplesmente não posso esquecer assim, num piscar de olhos. Eu sei, eu sinto que o que você sente por mim é verdadeiro, eu vejo que você faz por mim mais do que muitas pessoas já fizeram, mas agora eu simplesmente não posso te retribuir, eu não consigo. Me desculpa, mas por enquanto, eu não posso estar contigo. Não tenho forças, nem sentimentos, pra responder os teus 'Eu te Amo' dizendo 'Eu também' olhando nos teus olhos.
Eu, que pensei em propôr algumas coisas a ele, me vi então sem palavras. Apenas abracei-o, e ele então me beijou. Talvez o último, talvez a despedida. Ali, abraçado com ele, eu queria ficar pra sempre. Queria prendê-lo comigo e poder mudar tudo, mas sei que é impossível. Olhei nos olhos dele, e vi seus olhos marejados. Esbocei um sorriso, bem pequeno, pra que ele se acalmasse. Segurei suas duas mãos, as apertei, e saí, sem dizer uma palavra.
Ele voltou a posição de antes, com os cotovelos sobre os joelhos, e eu tomei o caminho de volta. A uma certa distância, as lágrimas começaram a correr silenciosas pelo meu rosto, e eu sentia, passando por todo meu corpo, a dor, como se um veneno muito forte estivesse correndo em minhas veias. Eu que nunca pensei que o que eu sentia poderia ser algo mais, acabo vendo que ultrapassava todos os sentidos do que eu esperava.

"Eu estive querendo, esperando, com esperanças, rezando
Eu sinto como se eu estivesse sufocando mas não a nada que resta pra perder
Se tudo aquilo que eu tenho é a mais doce negação,
se tudo que eu posso dar é o resto da minha vida
Então eu estou fingindo que eu posso sobreviver sem você
Eu pensava que eu era mais forte que o amor
mas eu acho que ninguém é imune"
Melanie C - Immune

domingo, 17 de agosto de 2008

Contatos

Conhecer pessoas é algo tão estranho. Em um primeiro momento, no primeiro olhar, nós, inconscientemente, fazemos uma imagem da pessoa. Tentamos imaginar como ela é, ou simplesmente, elaboramos um preconceito sobre aquela pessoa, e mantemos essa imagem, algumas vezes, errada sobre, por um bom tempo, ou para sempre.
Quando então nos aproximamos, vemos de verdade, o jeito, a personalidade, os gostos, as qualidades e defeitos de cada um, e nos afeiçoamos, ou não, por aquela pessoa. Com algumas pessoas nos damos melhores, com outras menos, isso é natural. Porém, existem algumas que, apesar de, de início, nós obtermos uma imagem distorcida, depois acabam se tornando essenciais.
Aquela pessoa que nos preocupamos, que queremos o bem acima de tudo, que pegamos raiva, ódio, de qualquer pessoa que o machuque, que entre em seu caminho, que o faça sentir mal. Aquela pessoa, cujo sorriso ilumina um dia inteiro, cujo olhar dentro dos nossos olhos faz com que nos sintamos preenchidos por algo inexplicavelmente maravilhoso, cujo toque nos faz sentir protegidos, cujo abraço nos faz sentir leve, livre de qualquer outro pensamento que não seja a proximidade de tal pessoa, tão perfeita.
Aquela pessoa, cuja nossa existência parece necessitar acima de tudo para que esteja completa, cujo todas as palavras, todos os momentos, por mais singelos que sejam, se tornam únicos, especiais.
Muitas vezes, nós levamos esse tipo de relação, essas pessoas, como amigos, os melhores amigos, aquela pessoa que você confia para qualquer momento, para qualquer problema, para qualquer coisa que aconteça.
Porém, em alguns momentos, essa pessoa começa a fazer mais parte do que parecia dever, quando esses sentimentos passam a aflorar de uma forma bastante incontrolável, quando pensar nessa pessoa é mais frequente do que pensar em si mesmo.
É nessa hora, que o choque entre sentimentos entra, e a partir daí, só o tempo dirá o que poderá acontecer...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Hobbes, Sobre a Paixão


Trecho de:

Leviatã
ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil

Primeira Parte: Do Homem
6. Sobre a origem interna dos movimentos voluntários chamados paixões e a linguagem que os exprime.

[...]
Paixões simples, como as chamadas apetite, desejo, amor, aversão, ódio, alegria e tristeza recebem nomes diversos conforme a maneira como são consideradas. Em primeiro lugar, quando uma sucede à outra, são designadas de maneiras diversas conforme a opinião que os homens têm da possibilidade de conseguir o que desejam. Em segundo lugar, do objeto amado ou odiado. Em terceiro lugar, da consideração de muitas delas em conjunto. E em quarto lugar, da alteração da própria sucessão. Paixões simples, como as chamadas apetite, desejo, amor, aversão, ódio, alegria e tristeza recebem nomes diversos conforme a maneira como são consideradas. Em primeiro lugar, quando uma sucede à outra, são designadas de maneiras diversas conforme a opinião que os homens têm da possibilidade de conseguir o que desejam. Em segundo lugar, do objeto amado ou odiado. Em terceiro lugar, da consideração de muitas delas em conjunto. E em quarto lugar, da alteração da própria sucessão.
Chama-se esperança o apetite ligado à crença de conseguir.
Sem essa crença, o apetite se chama desespero.
Chama-se medo a opinião ligada a crença de dano proveniente do objeto.
Chama-se cólera a coragem súbita.
Chama-se confiança em si mesmo a esperança constante.
Chama-se indignação a cólera perante um grande dano feito a outrem, quando pensamos que este foi feito por injúria.
Chama-se benevolência, boa vontade, caridade o desejo do bem dos outros. Chama-se bondade natural se for do bem do homem em geral.
Chama-se cobiça o desejo do bem dos outros, palavra que é sempre usada em tom de censura, porque os homens que lutam por elas vêem com desagrado que os outros as consigam; embora o desejo em si mesmo deva ser censurado ou permitido conforme a maneira como se procura conseguir essas riquezas.
Chama-se ambição o desejo de cargos ou de preeminência, nome usado também no pior sentido, pela razão acima referida.
Chama-se pusilanimidade o desejo de coisas que só contribuem um pouco para nossos fins e o medo das coisas que constituem apenas um pequeno impedimento.
Chama-se magnanimidade o desprezo pelas pequenas ajudas e impedimentos.
Chama-se coragem ou valentia a magnanimidade, em perigo de morte ou de ferimentos.
Chama-se liberalidade a magnanimidade no uso das riquezas.
Chama-se mesquinhez a pusilanimidade quanto a esse mesmo uso, conforme dela se goste ou não.
Chama-se amabilidade o amor pelas pessoas, sob o aspecto da convivência social.
Chama-se concupiscência natural o amor pelas pessoas apenas sob o aspecto dos prazeres dos sentidos.
Chama-se luxúria o amor pelas pessoas adquirido por reminiscência obsessiva, isto é, por imaginação do prazer passado.
Chama-se paixão do amor o amor por uma só pessoa, junto ao desejo de ser amado com exclusividade. Chama-se ciúme o amor junto com o receio de que esse amor não seja recíproco.
Chama-se ânsia de vingança o desejo de causar dano a outrem, a fim de levá-lo a lamentar qualquer de seus atos.
O porquê, o como e o desejo de saber chama-se curiosidade, e não existe em qualquer criatura viva a não ser no homem. Dessa forma, não é só por sua razão que o homem se distingue dos outros animais, mas também por esta singular paixão.
[...]