domingo, 28 de março de 2010

Memórias do Indizível II - Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria

Acordara cedo num dia que não precisava.
Era fim de semana, porém alguém fizera questão de colocar o som alto e estacionar em frente ao seu prédio, e deixar o som ligado. E também, o carro. Com certeza um carro velho, com aquele barulho chato de motor que está querendo, incessantemente, afogar.
Quando isso acontecia, ele costumava se irritar. Porém, hoje não. Abriu a cortina e viu que o tempo estava para chuva, se formando uma tempestade, talvez.
Da mesma forma, ele decidiu sair, caminhar. Comprar pão fresco, talvez àquela hora da manhã, pouco mais de 8 horas, conseguisse pão novo.
Se lavara, e fora trocar de roupa. Conseguiu apenas uma bermuda velha e uma camiseta amassada. Após ter ficado desempregado, ele não pagara mais empregada, e as vezes se esquecia ou tinha preguiça de arrumar suas coisas. Tinha apenas um par de roupas arrumadas para sair procurar emprego.
Saíra de casa, porém o portão do prédio emperrou. Após 5 minutos forçando, ele conseguiu. Conseguiu também um pequeno corte no polegar, que ardia um pouco, mas ele não se irritara.
Chegando a padaria, ele viu o padeiro fechando as portas.
- O que houve?
- Houve, que fomos assaltados a esta hora da manhã. Nada de pães, nada de trabalho para mim hoje.
Além de estar desempregado, de ter sido acordado cedo, por um carro velho e seu som chiado, de ter cortado o dedo, de o tempo estar para chuva, ele ficaria sem pão.
Apesar disso, ele sorria.
Estava bem, e se sentia bem consigo mesmo.
Enquanto ria consigo mesmo, passou perto de um bar que tocava Roberta Sá na rádio, e assim ela cantava:
- que belo estranho dia pra se ter alegria, e eu respondo e pergunto: é só o tempo pra gente ficar junto, é só o tempo de eu enlouquecer por você...
E sim, talvez ele estivesse enlouquecendo. Mas não era por ninguém, era por ele mesmo. Pela própria vida.
Apesar de todas as coisas ruins que vinham acontecendo, ele não sabia porque, ele tinha vontade de sorrir. Acordou naquele dia, sentindo, sabendo, que o que é ruim não dura para sempre.
Ou ele morre, ou ele some, ou a vida dá uma reviravolta. Três formas de tudo melhorar, e ele sorria, esperando para ver qual das três a vida iria lhe proporcionar.

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