quinta-feira, 22 de julho de 2010

Xeque-mate.

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Não é analisador aquele que se deixa perceber, porém, como observador.
Ele é, afinal, alguém que, silencioso, assiste aos atos, como um espectador.
Analisador real é aquele que age como espião;
que não apenas assiste ao jogo, mas convence que está a participar dele,
quando na verdade, apenas está ali para aprender como são movimentadas as peças no tabuleiro.


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domingo, 18 de julho de 2010

Desavanços.

O amor saiu pela porta de trás, em silêncio.
Deixou em cima da mesa uma carta, e uma embalagem.
Na carta deixou as lembranças, na embalagem, a saudade.
E junto com a saudade, um cartão que me questionava:
Me mostra o caminho de volta?
Sentei em um canto de sala com as lembranças em uma mão, com a saudade no colo e com a pergunta em outra, e enquanto isso as lágrimas percorriam meu rosto de forma lenta e silenciosa, montando uma máscara de solidão, agonia e sem a menor idéia de como proceder.
Olhei para cima, escancarei minha boca e puxei todo o ar que foi necessário para preencher meus pulmões afogados.
Deixei as lembranças e a questão no chão, então as guardei na caixa junto com a saudade.
Peguei a escada, a tempos guardada no canto escuro da garagem, e guardei no armário mais alto do almoxarifado.
Por mais que doa, por mais que eu saiba que eu voltarei a olhar o que o amor deixou, eu não vou, mais uma vez, pegar em sua mão e te fazer voltar.
Também já fui amor, misturado com paciência, por vezes com medo, em outras com carência, e ultimamente, vício, necessidade, mas após esta partida, só consigo ver no espelho alguém que chamo de orgulho.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Carta de Fundo de Gaveta; ou o reconhecimento da derrota

Sou fraco, e reconheço isso. Te deixei partir, e com medo de enfrentar toda a dura realidade de um mundo mais real do que meu próprio, não te procurei. Desejei, até sonhei por muitas vezes, que você apareceu em minha porta, e inocentemente, me pediu para entrar. Eu, surpreso, apavorado, nervoso, apaixonado, te convidaria a entrar, não saberia se apertaria sua mão, se te abraçaria, ou se me jogaria em seus braços. Iria perguntar se deseja comer algo, se quer um café, um chá, uma sopa, um almoço, janta, meu corpo. Perguntaria se está tudo bem, o que tem feito, como tem vivido, o que te trouxe até aqui. Tudo de uma vez só, sem te dar espaço para respirar, perdendo todo meu fôlego para te prender aqui, com medo de que você vá embora. Com muito medo de acordar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Através dos Olhos

Eu não consigo me lembrar de muita coisa. Muitos pedaços da minha história foram largados pelo caminho que me trouxeram até aqui, como páginas soltas de um livro muito velho. Esses caras que vêm ver diariamente como estou nunca respondem às minhas perguntas, dizem que é melhor eu nem saber porque estou aqui.
Perdi a noção de tempo, a muito tempo. Não sei quanto tempo faz que estou neste mesmo quarto, que acordo na mesma cama, e que ando dentro do mesmo ambiente. Mas aqui estou eu.
De vez em quando saio para andar pelas salas e corredores, mas não me comunico com ninguém. Algo me diz que eu não conseguiria manter uma conversa racional com nenhum dos habitantes daquele lugar. Mas gosto de andar, ver um pouco de televisão, observar tudo, se bem que não há muito o que observar: é tudo tão branco que chega a cansar os olhos. Dizem que é pra trazer paz. Não sei daonde: aquela clareza toda me tira do sério. Então volto ao meu quarto. Até porque, do meu quarto eu posso ver a única coisa que me agrada.
Eu já estava aqui a algum tempo quando plantaram aquelas árvores. Vi tudo pela pequena janela (que, infelizmente, não se abre) que existe ao lado de minha cama. Me sentia meio sonolento naquele momento, logo após o almoço, mas pude ver todas as mudas serem plantadas. Entre elas, uma minúscula, quase sem folhas, chamou minha atenção. E desde aquele dia, eu tive uma visão privilegiada da evolução e do crescimento de cada uma daquelas plantas. Pode parecer tedioso, mas elas eram o que mais me animava e me dava forças ali, naquele lugar.
Gritava de alegria com suas flores, me irritava quando alguém as podava ou arrancava cruelmente seus frutos, sofria quando começavam a perder suas folhas. Eu expressava com sentimentos tudo que elas não podiam expressar. E havia também, a minha pequena.
Ela continuou pequena, enquanto todas as outras cresciam. Seus galhos, mais finos, suas folhas, menos brilhantes, e nunca, nunca floresceu. Sentia pena dela, e também, um outro sentimento me fazia ser tão ligado e tão preocupado com ela: eu me sentia como ela, pequeno, desprotegido, sem chances, sem esperanças. Eu entendia perfeitamente como é ser observado como alguém que não dará frutos nem fará os olhos de alguém brilhar de alegria e orgulho.
E seguia minha rotina, afinal de contas, não havia muito o que fazer. Quando conseguia com os caras algum giz de cera e folhas, eu ficava a olhar pela janela e a desenhar minhas queridas árvores, em vários lances e cheio de detalhes diferentes a cada produção. Diferentes focos de luz, em meio a neblina, ao anoitecer, durante a chuva. Me alegrava em poder registrar de forma tão infantil e pura todas as aventuras que elas podiam passar, e eu não.
Imaginar que elas, mesmo sendo árvores, podem viver mais do que eu, começou então a me deprimir... Eu não conseguia aceitar que árvores, que não se movem, não falam, não agem, podem viver mais e aproveitar mais a vida do que eu! Socando a janela, comecei a xingar, esbravejar, dizer que as odiava. Alguns caras chegaram e me colocaram na cama, me pedindo calma. Só senti que meu corpo amolecia, e adormeci.
Acordei na manhã seguinte exaltado, me sentindo arrependido de ter sido tão rude com minhas belas, e decidi ir até a janela pedir desculpas, porém, já era tarde demais. Todas as folhas estavam no chão, e elas, principalmente minha pequena, pareciam secas, quase apodrecidas. Comecei novamente a gritar e esbravejar, e também a arranhar todo o meu corpo. Sentia o sangue correndo pela minha pele e não achava punição suficiente. Eu fui rude, cruel, amargo e invejoso, e causando tristeza, fiz minhas árvores morrerem! O únicos motivos dos meus sorrisos, não mais existiam! Me desesperei, não queria mais viver sem elas, e continuei a me arranhar, tirando muito sangue do meu corpo, até que os caras chegaram para estragar tudo. Ataquei-os, os mordi, bati, arranhei, chutei, até que eles conseguiram me segurar e me levar.
Não sei por quanto tempo dormi, mas sei que acordei em um quarto muito escuro, com paredes estofadas, e estava todo enfaixado, sentindo meu corpo todo dolorido e inchado. Sentei com dificuldade, olhei ao meu redor, e me sentindo um pouco mais desperto, me espantei! Ali não era meu lugar, eu queria voltar ao meu quarto, mas me sentia fraco demais para pedir para voltar, e voltei a deitar no chão e adormeci.
Quando tornei a acordar, estava numa maca, sendo levado por uma mulher, jovem, loura, alta, não tão bonita, mas que passava um ar de tranquilidade que me fizeram bem, e quando notou que abri meus olhos, sorriu.
Me disse que eu sofrera algum tipo de crise temperamental, precisei de um tratamento diferente, mas que estava melhor e que estava me levando ao meu quarto. Deixou claro, então, que a partir de agora seria ela quem cuidaria de meu caso, e que me faria ficar bem.
Respondi apenas com um sorriso, amarelo. Não era a primeira vez que alguém dizia que iria me fazer ficar bem. Eu só não entendia bem do que. Eu me sentia bem, apenas me irritava por ficar aqui preso, apenas isso. Mas não adiantava repetir isso, eu não iria sair de qualquer jeito, e também não acreditava nas palavras da moça, por mais simpática que ela tenha sido.
Ela me ajudou a levantar da maca e me colocou sentado em minha cama, com as pernas esticadas, e perguntou se eu precisava de algo. Pedi a ela para abrir as cortinas, que gostava de olhar para fora.
Ela assim o fez, e o que vi me fez sorrir, e quem sabe, até acreditar nas palavras da moça. Não sabia quanto tempo havia passado distante, porém tempo suficiente para que minhas árvores estivessem novamente com folhas, e não apenas isso, com botões! E o mais importante era, que a frente de todas elas, estava uma pequena árvore, cujas folhas nunca haviam brilhado tanto, e que mostrava acima de todas estas folhas, um pequeno botão prestes a se abrir.
Eu bati palmas e ria descontroladamente, pois não conseguia conter tamanha felicidade! Por ela, e por mim. Quem sabe, ainda havia uma esperança. Quem sabe, eu poderei não apenas admirá-la pela minha janela, mas poder sentir o perfume de todas as flores que brotarem dela. Se ela não perdeu as forças, se ela não desistiu de ser como as outras, eu também não desistirei.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Princípio de Pauli.

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Não será necessário fingir, não.
Não precisa atuar. Não force uma situação, eu não quero te chatear.
Não é necessário agir assim, não pretendo te constranger.
Pode ficar.
Eu já estou de saída.

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