segunda-feira, 12 de julho de 2010

Carta de Fundo de Gaveta; ou o reconhecimento da derrota

Sou fraco, e reconheço isso. Te deixei partir, e com medo de enfrentar toda a dura realidade de um mundo mais real do que meu próprio, não te procurei. Desejei, até sonhei por muitas vezes, que você apareceu em minha porta, e inocentemente, me pediu para entrar. Eu, surpreso, apavorado, nervoso, apaixonado, te convidaria a entrar, não saberia se apertaria sua mão, se te abraçaria, ou se me jogaria em seus braços. Iria perguntar se deseja comer algo, se quer um café, um chá, uma sopa, um almoço, janta, meu corpo. Perguntaria se está tudo bem, o que tem feito, como tem vivido, o que te trouxe até aqui. Tudo de uma vez só, sem te dar espaço para respirar, perdendo todo meu fôlego para te prender aqui, com medo de que você vá embora. Com muito medo de acordar.

Mas você não veio. Não sei se por falta de querer me ver, de querer me tocar, ou por falta de coragem de tentar, por mais uma vez, me tirar deste mundo que eu criei para viver em paz. Quando você se foi, eu esbravejei, blasfemei, quis ver seu rosto na capa dos jornais, preso, torturado, morto, estrangulado, mas quando tomei consciência do que nos trouxe até aqui, eu notei que a culpa não era somente sua.
Fui covarde ao resistir a sua mão, que por tantas vezes tentou me puxar, me tirar desta realidade que era só minha, e por mais que eu tenha criado um espaço todo seu neste mundo, por mais que eu tenha te incluído em minhas verdades de uma maneira que te deixou confortável por algum tempo, você também deseja ver o mundo, outras pessoas, outros lugares. Conquistar tudo ao seu redor, e eu, egoísta, via nisto um desejo seu de abraçar o mundo e me fazer apenas parte de um todo, e não algo em especial.
Cego de ciúmes, ciúmes de seus planos, anseios e pretensões, não vi, ou não quis ver, como sua vida se moldou por tanto tempo a minhas vontades, a meus desejos, a meus desgostos e até a minhas verdades. Não sei se levei tempo para notar, pois no fundo, eu sempre percebi, mas com medo de que ao expressar o quanto eu estava satisfeito, feliz, realizado com suas mudanças, você sentisse nisto uma oportunidade de me persuadir, me enganar, me deixar em segundo plano, eu silenciava. Assistia a suas provas de amor em silêncio, e você, cansado de demonstrar tudo que sentia, me deixou com minhas verdades e seguiu em frente.
Seguiu em frente, e hoje eu nem sei se você ainda vive. Partiu, e levou consigo tudo que havia de mais belo em minha existência, deixando para trás apenas as lembranças que preenchem as paredes do meu quarto, que enfeitam o interior de minha mente e que são tão visíveis quando fecho os olhos, me permitindo apenas criar coragem para escrever mais uma carta que jamais alcançará seu destino, e de ter sonhos de um reencontro que eu, amargamente sei, jamais voltará a acontecer.

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