terça-feira, 28 de junho de 2011

Não mais.

Aos prantos.

Deitado em leito desconhecido.

Terreno plano, noite longa.

Caminho curto.

Risos intermináveis atravessando paredes.

Paredes pessoas ecoando em minha mente toca-fitas.

Canto as canções mais bonitas pra tentar parar de rir.

E antes que o sono vá embora, e ela acorde.

Eu acorde.

E ela implore, aos prantos.

Pra que eu vá embora desse quarto.

Atravesse a porta trancada.

Deixe-a só, sobre os lençois.

Que eu não reconheço.

sábado, 11 de junho de 2011

Nublado

Só outro dia.
Naquele outro dia, eu recolhi as roupas do varal, trouxe pra dentro de casa. O dia estava meio nublado, o lençol já estava seco, eu cansei de dormir no chão. Um pano pra limpar as costas, um tapete pra forrar o colchão. Sentado na poltrona virada para a parede, eu olhei pela janela e vi que o sol estava escondido por trás daquelas mesmas nuvens no outro céu de outrora. Se chovesse, eu teria que fazer tudo de novo. E eu recolhi as roupas do varal.
Sempre soube que outro dia eu faria tudo de novo pra encontrar algo que eu não sei como perdi. Se soubesse que seria só em outro dia eu teria evitado desde o começo pra que esse dia fosse mais um dia, e não outro dia. Mais um dia seria, e eu levantaria da cama e o lençol estaria limpo, porque ontem eu não teria que ter levado pra área de serviço e esfregado a noite toda. Água limpa que cai, água suja que escorre, mãos quase congeladas, pois o frio está de matar. Matar no frio é sempre mais dolorido.
Era outro dia, depois do dia de ontem, que deveria ter sido mais um dia, se não tivesse sido outro também. Todos os dias seriam outros, depois que o lençol ficou sujo. Sujei o lençol porque foi necessário, claro que foi. Dormir no chão também, o colchão estava secando, eu sujei também o colchão e tinha muita espuma dele pelo chão.
O colchão está na cama, virado, secando, e eu dormi no chão, esperando o outro dia mais um dia outro dia começar pra recolher o lençol e por na cama. Lençol sem manchas, que eu esfreguei a noite toda até sairem todas as manchas que eu sujei você sujou nós dois sujamos mas agora, você dorme lá fora, e eu durmo sozinho.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cafuné

Sobre a mesa, uma folha em branco. Caneta em mãos, ideias na cabeça, coragem no congelador.
Uma carta, um poema, uma prosa, poesia. Expressar sentimentos, tão em vão quanto pedir justiça em um quarto fechado.
Sobre o tempo que passou, apenas memórias. Rememorar, escrever uma biografia, autópsia. Uma vida que foi, que não volta. Tempo não volta, apenas segue. Relembrar não é viver, relembrar é inútil. Reconstruir, impossível. Continuar, necessário.
Sobre os ombros, um peso. Peso imposto, peso fardo, peso autoflagelo. Não há cruz, não há pesar. Há autopiedade. Atenção por meio de sofrimento, criatura digna de desprezo. Conquistas por meio da tristeza, vitória por caminhos de lágrima e sangue. Vitória que não venceu nada, nem ninguém. Nem a si mesmo.
Uma carta sem destino. Aonde quer quer chegue, quem quer que recolha do chão, a quem der alguns segundos de atenção. Uma doação, um pedido, um afago, uma mão. Não por merecimento, mas por pena.
Autodestruição. Comece por você.

domingo, 5 de junho de 2011

Era mas não é.

Restos, ao alcance das mãos. Ficou pra trás abandonado largado. Inteiro sem manchas nem podres mas abandonado. Apalpa leva deixa não deixa não leva traz. Alimenta alma corpo alimenta boca mastiga forte. Arrasta contorce envenena veneno vômito gangrena. Ria chora sofre comemora ama demora. Perante os olhos por trás dos olhos por dentro por fora revolta revive rememora mora morra morre recomeça.
Órgão pulsante, pura ilusão. Não bomba amor não bomba sangue fluído e só. Arrancado tirado estraçalhado inteiro jogado. Corpo não há, apenas a bomba vital o órgão no chão o sangue do mundo a pulsar e esperar. Nas mãos, restos que pulsam, que tremem, que sugam expulsam sugam expulsam. No alcance do rosto, mancha face enche a boca preenche os vazios traz de volta tudo que não sou. Mas mato a fome.