quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cafuné

Sobre a mesa, uma folha em branco. Caneta em mãos, ideias na cabeça, coragem no congelador.
Uma carta, um poema, uma prosa, poesia. Expressar sentimentos, tão em vão quanto pedir justiça em um quarto fechado.
Sobre o tempo que passou, apenas memórias. Rememorar, escrever uma biografia, autópsia. Uma vida que foi, que não volta. Tempo não volta, apenas segue. Relembrar não é viver, relembrar é inútil. Reconstruir, impossível. Continuar, necessário.
Sobre os ombros, um peso. Peso imposto, peso fardo, peso autoflagelo. Não há cruz, não há pesar. Há autopiedade. Atenção por meio de sofrimento, criatura digna de desprezo. Conquistas por meio da tristeza, vitória por caminhos de lágrima e sangue. Vitória que não venceu nada, nem ninguém. Nem a si mesmo.
Uma carta sem destino. Aonde quer quer chegue, quem quer que recolha do chão, a quem der alguns segundos de atenção. Uma doação, um pedido, um afago, uma mão. Não por merecimento, mas por pena.
Autodestruição. Comece por você.

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