sábado, 11 de junho de 2011

Nublado

Só outro dia.
Naquele outro dia, eu recolhi as roupas do varal, trouxe pra dentro de casa. O dia estava meio nublado, o lençol já estava seco, eu cansei de dormir no chão. Um pano pra limpar as costas, um tapete pra forrar o colchão. Sentado na poltrona virada para a parede, eu olhei pela janela e vi que o sol estava escondido por trás daquelas mesmas nuvens no outro céu de outrora. Se chovesse, eu teria que fazer tudo de novo. E eu recolhi as roupas do varal.
Sempre soube que outro dia eu faria tudo de novo pra encontrar algo que eu não sei como perdi. Se soubesse que seria só em outro dia eu teria evitado desde o começo pra que esse dia fosse mais um dia, e não outro dia. Mais um dia seria, e eu levantaria da cama e o lençol estaria limpo, porque ontem eu não teria que ter levado pra área de serviço e esfregado a noite toda. Água limpa que cai, água suja que escorre, mãos quase congeladas, pois o frio está de matar. Matar no frio é sempre mais dolorido.
Era outro dia, depois do dia de ontem, que deveria ter sido mais um dia, se não tivesse sido outro também. Todos os dias seriam outros, depois que o lençol ficou sujo. Sujei o lençol porque foi necessário, claro que foi. Dormir no chão também, o colchão estava secando, eu sujei também o colchão e tinha muita espuma dele pelo chão.
O colchão está na cama, virado, secando, e eu dormi no chão, esperando o outro dia mais um dia outro dia começar pra recolher o lençol e por na cama. Lençol sem manchas, que eu esfreguei a noite toda até sairem todas as manchas que eu sujei você sujou nós dois sujamos mas agora, você dorme lá fora, e eu durmo sozinho.

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