domingo, 2 de outubro de 2011

Calabouço

Refletido em luz, os olhos opacos envelheciam os arredores. Carregadas e engatilhadas, as armas na garganta vomitavam projéteis palavras contra as paredes, pintando com sangue seco na carne da casa inabitada. Revirando papeis entre as gavetas do quarto mofado, reencontrava os recados que costumavam ficar grudados com fita nas paredes para não esquecer de respirar fundo todos os dias pela manhã.
Há muito tempo não se viam as manhãs. Os olhos secos, abandonados em um rosto inexpressivo, esqueciam-se, um pouco mais a cada dia, do efeito da luz incidindo sobre sua pupila. As cortinas de ferro aprisionavam a luz no resto do mundo e proibiam-na de se libertar para dentro do cômodo em ruínas.
Pendurados no teto, vermes e insetos enrolados em teias de aranha esperando para serem devorados. Um móbile natural e mórbido decorando a solidão daquele espaço.
Gritando em silêncio para não espantar o silêncio e preencher o vazio, sentia aos poucos o pó que corria pelo seu rosto, vindo de seus globos oculares. Secos, escorrendo até o chão e se misturando com as cinzas que cobriam o assoalho.