domingo, 25 de dezembro de 2011

Camuflagem

Haviam luzes incomodando os olhos. Mesmo fechados, atravessavam e invadiam sua retina com uma força brutal. Gritava, em vão, para acabarem com toda a imensidão clara.
Não havia voz.
Haviam sons ensurdecedores penetrando em seus tímpanos. Sentia-se à beira da surdez e suas súplicas não se faziam presentes em meio a ondas de som tão fortes.
Não havia voz.
Um corpo nu deitado na areia invadido por cada grão. Cada poro preenchido por um pedaço de terra, impossibilitando de transpirar. Sentia-se inchado, todos os líquidos retidos trancados por areia. Seus pelos cheios de areia, sua pélvis suja de areia, seus cabelos eram areia, seus dentes mastigavam.
Uma chuva fina caía sobre a pessoa imóvel deitada no chão. Uma massa disforme terrahomemareiamarchuva se criava e se confundia com o ambiente e sumia embaixo de luzes e sons e pegadas e pessoas e desaparecia.
As ondas do mar traziam pedaços e pedaços de areia e terra e sujeira para cima do corpo estendido no chão.
Não havia voz.