terça-feira, 28 de agosto de 2012

Carta de Fundo de Gaveta; ou o grito que ecoou no vazio

Eu sei que tudo isto deveria ter ficado no fundo da gaveta. Lá, guardado. Ou melhor. Nem ter ido pro papel. Ter ficado guardado no fundo, no fundo da memória. Só uma lembrança. Algumas, várias memórias, alguns anos e muitos momentos de lembrança.
Mas hoje eu acordei ouvindo uma voz. Vindo, lá do fundo, de dentro de algumas destas memórias, que dizia o meu nome bem baixinho, no pé do ouvido. Eu ouvia como se estivesse deitado do meu lado. Sei que é errado, ouvir uma voz do passado quando, dormindo ao seu lado, está outra pessoa.
Sei que você sabe de minha vida hoje, do que vivo e do que se tornou o meu dia-a-dia. Sei que tem maneiras de saber, mesmo que eu não o diga.
Talvez eu deveria me sentir culpado de escrever tudo isto, de colocar no papel, e mais uma vez, guardar no fundo da gaveta empoeirada. Talvez isso chegue ao destinatário. Talvez não. Como saber?
Talvez eu deveria me sentir culpado de, quando fecho os olhos, às vezes, ver os seus me encarando bem de perto, deitado na cama, no domingo de manhã, vendo pessoas se prestando ao ridículo na televisão, e nos vendo sendo pateticamente gordos numa cama de solteiro.
Talvez eu não devesse mais ouvir a sua voz, pois já faz tanto tempo. Mas parece que o meu cérebro se nega a destruir aquela fita cassete onde eu gravei você dizendo, milhões de vezes, o meu nome.

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