quarta-feira, 29 de maio de 2013

Se Você Vier

Deita aqui, pequena. Encosta tua cabeça em meu colo, deixa eu te acalmar. Te explicar coisas que talvez você seja jovem demais pra saber. Mas eu não quero que você sofra o que eu sofri.
Deixa eu acariciar o teu cabelo, e te dizer como você é linda. Uma pequena boneca, escondida atrás da força que não tem, mas diz ter. Dos olhos penetrantes. Tão pequena, escondida atrás de uma estante de discos velhos, livros empoeirados e bonecas de porcelana. Todas sem cabeça.

domingo, 26 de maio de 2013

Em Mãos Sujas

Haviam marcas de dedos no rosto. Estava vermelha a pele embaixo dos olhos, ao lado da boca. Recordo do dia em que eu acordei com os dentes quebrados, caídos no assoalho velho e podre. Haviam pedaços no chão. Um pouco de sangue na boca. O gosto era bom, me lembrava algo doce. Me lembrava o tempo que eu comia carne crua pra matar a fome.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ferida Aberta

Veja só. Arrastando os pés na calçada, depois de um dia todo de trabalho, cansada. Ela segue. Já marcara o compromisso de encontrar o velho amigo, conversar não sabe o quê. Procurara mil desculpas pra cancelar o compromisso, mas não encontrara algum. Não sabia o que queria o velho amigo, que não via a tempo tanto, que nunca vinha visitar.
Tinha raiva da solidariedade, esperava não falassem do marido que perdeu. Nem em guerra, nem batalha, nem assalto, nem ataque. Perdera para outra mais nova, bem mais bela, mais formosa, pra mostrar à sociedade. Não o amava a muito tempo, mas doía, bem no peito, a maneira que ocorreu. Humilhada e destruída, o marido lhe dizia: nunca fostes quem amei.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Leito de Espera

Vem. Me encosta na parede e grita no meu ouvido. Prende o teu corpo no meu. As portas estão abertas, corre, e invade o meu quarto. Cuidado com o tapete no corredor, não escorrega, não tropeça. Não caia. Eu caio todos os dias no abismo entre o meu quarto e o mundo aí fora. Eu estive aqui, esperando você me carregar com os teus braços fracos. Me arranca dessa cama com teu olhar fulminante, e me arremessa nas tuas mãos.
Corre. Que o tempo é pouco, e passa voando quando você está aqui. Eu vejo você vindo e indo, e você nem chegou perto. Eu acompanhei os teus passos, de olhos fechados, e em silêncio, enquanto você seguia sem voltar.