quarta-feira, 1 de maio de 2013

Leito de Espera

Vem. Me encosta na parede e grita no meu ouvido. Prende o teu corpo no meu. As portas estão abertas, corre, e invade o meu quarto. Cuidado com o tapete no corredor, não escorrega, não tropeça. Não caia. Eu caio todos os dias no abismo entre o meu quarto e o mundo aí fora. Eu estive aqui, esperando você me carregar com os teus braços fracos. Me arranca dessa cama com teu olhar fulminante, e me arremessa nas tuas mãos.
Corre. Que o tempo é pouco, e passa voando quando você está aqui. Eu vejo você vindo e indo, e você nem chegou perto. Eu acompanhei os teus passos, de olhos fechados, e em silêncio, enquanto você seguia sem voltar.
Entra. Eu preciso ver você passar pelo portal, lá longe, e me arrancar dessa inércia. Eu estive aqui deitada, calada, e você passou por mim. Tantas vezes.
Abrace-me. Diga-me que você conhece todos os medos, todos os erros. Que identifica a dor na mudança repentina da cor dos meus olhos. Que entende o embaraço dos fios de cabelo, o emanharado de receios.
Fala que reparou na cor das unhas, no corte de cabelo. Nos vestidos coloridos, que não ousava a tanto tempo. Nas mãos frias e trêmulas. Nas palavras que não mais saem.
Passe a mão sobre meus olhos fundos, e bem ao fundo, encontre o abismo. A devastação da planície que, um dia bela, está se tornando um deserto. Nas trilhas desconhecidas, caminhe com calma e cuidado. Verás minhas verdades estilhaçadas como vidro, pisoteadas como vermes.
Me acorda. Me segura pelos braços, e me chama pra deitar em você. Deixe o mundo pra depois, arranje um outro motivo pra nós dois. Eu te digo, eu te suplico. Eu fico. Me encosta no teu peito, e me diz que eu posso ali ficar. Eu cansei de ser vaidosa, eu cansei de olhar no espelho. Eu não gosto de ficar sozinha. Nem me arrumo logo pela manhã. Deixo sempre um pouco pra depois. Viro pro outro lado, e volto pro teu colo. Não me deixa um pouco pra depois.
Me levanta. Me pega pela mão, e como criança, me ensina a andar os teus caminhos. Eu vou cambaleando, eu ando meio tonta. Não me solta, eu creio que me perderei. O tempo anda devagar aqui fora, e se eu sigo só, eu creio que te perderei. Os caminhos são vários. Estreitos. Eu não mais os vejo. Talvez eu retorne sempre ao mesmo lugar. Sempre estará diferente. Novos destroços dejetos espalhados por pedaços de terra que o fogo ainda não consumiu. Mas eu não desisto de encontrar a trilha. Não desista de me guiar. Não desista de mim. Encontre-me. Descubra-me. Proteja-me. Abrace-me. Vem.

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