terça-feira, 28 de maio de 2013

Pra Chamar de Lar

Sou mísero
Sou eco
Sou resto
Sou pouco


Poucos os dias em que encontrei
A sala arrumada
A mobília toda no lugar
Um pouco menos de bagunça

Havia sempre uma carta no chão
Uma peça de roupa no corredor
Um fio de cabelo sobre a mesa
Uma almofada fora do lugar

Um moço qualquer
João Pedro José
Um nome que não conheço
E que não é meu

Sou tantos
Sou homens
Sou nomes
Sou cicatrizes

Há dias eu procurei as fotos velhas
O primeiro dia
Eu ainda me lembro
Eu sei tão pouco

Fui tateando as paredes no escuro
Procurando a porta trancada
Pra olhar pelo buraco da fechadura
Se eu poderia entrar

Um corpo qualquer
Mário Carlos André
Um tronco que eu nunca vi
E que não é meu


Sou prantos
Sou cantos
Sou vazios
Sou abismos

Me escondi em cantos
Onde a luz não me alcançaria
Tornei-me um estranho qualquer
Invadindo minha própria casa

Levantei de mãos vazias
Carreguei as lágrimas nos dedos
Gritei em silêncio, escancarei a boca
Retomei o medo

Uma lâmina qualquer
Paulo Augusto Manoel
Um sangue que eu nunca toquei
E que não é meu

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