terça-feira, 27 de agosto de 2013

Do Rio de Janeiro

Clarisse,

Hoje o sol bate nas águas, e a luz refletida no mar me faz arder os olhos e me salga a pele ressecada. Você não aguentaria a força dos raios e se irritaria facilmente com a areia encostando a sola sensível dos seus pés. Há quanto tempo seus pés não encontram o chão, Clarisse? Há quantos séculos você não pisa um solo que seja de verdade, que não seja de ilusão e sonho?

sábado, 24 de agosto de 2013

Em Cachecóis e Cabelos Soltos

Eu senti o cheiro da chuva. Quando pisei pra fora de casa, naquele dia de inverno, eu senti. Por mais que você viesse a insistir depois que seria quase impossível chover em um dia tão frio, com tantas estrelas no céu. À todo momento, eu esperava ouvir o primeiro trovão. À todo momento, eu iria esperar você dizer que tinha medo de raio e eu oferecesse meus braços pra te proteger. Não dos raios. Só do medo do raio. E te guardar do frio.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Do Mundo Cão

Clarisse,

Percorrendo essas ruas sujas, me lembrei de você. Deitada em sua cama, de cortinas fechadas, sem deixar o sol entrar. Me imaginei te guiando por esses caminhos oblíquos, de paredes cinzas, e te via triste. Você pintou seu mundo tão bonito, em tuas portas cerradas, em sua torre de princesa, que essa verdade te machucaria os olhos, te destruiria as narinas, te faria sofrer. É por isso que eu receio em te escrever. Eu não sei o que você faria se eu te contasse tudo que eu vi, tudo que vivi. As pessoas que conheci.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Arrastar do Vento

É, menino. Talvez o dia passe lento, se arraste. Talvez eu me arraste até o dia passar bem devagar, devagar. É, menino. As horas correm vagarosas e você se mantém tão longe. Eu leio as linhas dos dias e cada passo interrompido dos ponteiros dos relógios. Eu leio cada respiração. Eu leio os teus olhos. Eles não me dizem nada novo, mas eu gosto de ver a maneira como me dizem sempre a mesma coisa. Gosto de ver as palavras silenciosas que eles usam.

sábado, 17 de agosto de 2013

Moreno

Eu desenhei os teus passos. Te encontrei em um caminho oblíquo, estreito e obscuro. Mas ainda assim, eu consegui me atentar a cada detalhe. A intensidade do teu pisar, a força da tua respiração, a cadência dos teus movimentos. E desenhei, cada um dos teus passos. Em folhas brancas, com lápis negros. Eu reproduzi cada momento do teu andar em vários quadros que demonstravam claramente que sim, eu te observei, moreno.