terça-feira, 27 de agosto de 2013

Do Rio de Janeiro

Clarisse,

Hoje o sol bate nas águas, e a luz refletida no mar me faz arder os olhos e me salga a pele ressecada. Você não aguentaria a força dos raios e se irritaria facilmente com a areia encostando a sola sensível dos seus pés. Há quanto tempo seus pés não encontram o chão, Clarisse? Há quantos séculos você não pisa um solo que seja de verdade, que não seja de ilusão e sonho?

São tantas as vozes misturadas, as línguas diferentes correndo de bicicletas e patins pelos calçadões na orla, que meu cérebro se confunde, e eu começo a falar Esperanto, na tentativa de ser entendido por todos. Mas nem se eu falasse a língua dos anjos, você me ouviria do meio de toda essa Babel instaurada à beira das fronteiras do mundo. E é nesse sol e nessa praia e nesses estranhos que veem a beleza da antiga capital do país, Clarisse. E é justamente nisso que eu vejo o inferno do ser humano. A ilusão de que estar torrando sob o sol e mostrando seus corpos mortais e em estado de putrefação eterna seja algo maravilhoso e invejável. Nada disso me soa belo. Me parece fúnebre, pra ser bem sincero.
Me trouxeram para cá, dizendo que aqui é uma cidade de paixões. Vim com a esperança de quebrar a promessa que te fiz e te esquecer para sempre. Para aprender a amar de verdade, alguém que esteja dividindo o mesmo caos que eu, e que não esteja presa em uma torre de princesa como você, Clarisse. Mas o amor não me cruza, e minhas promessas são eternas. Até mandei fazer de puro aço, luminoso, um punhal, e te esperei. Mas as 4 horas passaram, e você não chegou nem perto da Avenida Central. Portanto espero, ao menos, que estejas ainda acordada. 



Com solidão e silêncio,

Seu James Dean


À Amanda Hamud

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