sábado, 28 de setembro de 2013

Confissão Sussurrada

Não sei nem se deveria, pequeno, mas preciso contar-te, sussurrando em teu ouvido, o que me causa a tua presença. Te contar, sim, sussurrando, pra que não ouçam os outros, pra que eu não me denuncie. Pra que você não me denuncie. Sim, pequeno, porque se conto em sussurros, se presume o segredo, e eu gostaria que você guardasse, sem rancor, somente pra você, o que eu venho a te confessar agora. Confissão essa, que faço, quase como se faz a um padre, pequeno. Porque o que te conto agora soa, até para mim, em pensamento, como pecado. Mas eu preciso dividir contigo, o que me causa estar ao teu lado.
Porque de início, pequeno, nem me chamava a atenção, tua presença calada. Sempre fostes de falar pouco, de não conversar a todo momento, muito menos comigo. Trocávamos poucas palavras, pequeno. Permanecia em seus pensamentos, sem dividir da tua verdade, sem contar muito da tua história, dos teus dias. E eu apenas te via. Te via, sem perceber-te, pequeno. E não te percebi, até o dia que seu corpo encostou no meu, em um abraço. Desde então, eu te percebo, pequeno.
Te percebo quando chega, cada linha do teu corpo, cada traço do teu rosto, que, quase inexpressivo, diz muito só da maneira que olhas ao teu redor. Percebo seu andar, seu jeito introspectivo de falar. Percebo as vestes, que repetes várias vezes, a mesma camiseta, a mesma calça, quase em todas as vezes que te encontro. 
E hoje, pequeno, se te toco, é porque te desejo. Te desejo assim, incontrolavelmente, de forma pulsante. Um desejo deveras carnal, sim. De te prender em meus braços, entrelaçar-me em suas pernas, e te arrancar as vestes de forma selvagem. Lamber-te o peito moreno, morder as tuas coxas, me perder em suas virilhas. Te desejo como um caçador, à espreita, deseja sua caça. Desejo devorar-te, pequeno. Mas também, desejo acalentar-te. Te pôr em meus braços, e cuidar de ti, como um amante sincero, que te protege de todo o mal, e que deseja arrancar de ti todos esses medos que manténs guardado em teu silêncio profundo, atrás desse teu disfarce de autossuficiência, que, eu sei, você criou apenas para se proteger de todo o mal, de todo o mal que eu sei, que eu sinto, que já te fizeram, e que você tem medo que te façam de novo.
E eu quero te dizer, pequeno, que minha pele procura a sua. Que minha boca, agora, perto de teu ouvido, sente vontade de beijar-te o corpo todo, e de te fazer só meu. Que eu desejo te deixar marcas na pele. E desejo marcar a sua alma. E te fazer meu, como nunca fostes de ninguém. 

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