domingo, 6 de julho de 2014

Me deixa ser o rio.

Quando entrei na água corrente, pretendia apenas molhar os pés, ainda assim, com certo desgosto. Nunca imaginei, porém, que já no primeiro passo, eu mergulharia inteiramente na correnteza dos teus detalhes. Jamais imaginei, realmente, que me veria entregue com apenas um olhar de canto e um sorriso tímido, até de leve espanto ou desgosto inicial com minha presença. E agora, me encontro, então, afogado em tuas verdades e em tuas dúvidas.

E nas tuas dúvidas e nos teus anseios e receios, eu me vejo perdido como em um labirinto infinito. Mas, ao invés de temer e querer fugir do Minotauro, desejo fazê-lo desaparecer. Todos os teus monstros e teus traumas e teus medos.
E hoje eu sei o quanto você odeia assédios, elogios e todo o tipo de tentativa abusiva e superficial de ressaltar o que se vê, o que é pura e simplesmente carnal e físico, mas eu preciso te dizer o quanto você é lindo. A maneira como você olha para cada detalhe do que está ao seu redor, como analisa sem piscar os ambientes que são novos e diferentes, que te encantam ou que te assustam, o brilho que eles têm quando você fala de algo que você realmente gosta, ou a maneira como eles se semicerram, enquanto suas mãos tremem, quando você toca em algum assunto que realmente remeta a alguma dor, ou tristeza, pela qual você já passou. Como o seu cabelo insiste em ficar em cima da orelha, por mais que eu tente diversas vezes colocá-lo para trás, ele sempre volta para o lugar inicial. A maneira como você lê, com paixão, e a maneira como você sorri quando fala espanhol. Como, mesmo de olhos fechados, eu consigo ouvir o teu sorriso. Os teus lábios, a pinta no seu nariz, o teu redemoinho na parte da frente do seu cabelo.
Deixa eu te ajudar a andar de novo por tudo que você desacreditou. Tentar te fazer acreditar que as coisas podem, e vão ser muito melhores, se você exigir um pouco menos dessa alma tão jovem, porém tão calejada, que você carrega dentro de si. Deixa eu te dar o abraço que eu tenho vontade de te dar desde o momento que eu coloquei os olhos em você, mas que eu não tenho coragem de dar, de pedir, e que está preso dentro de mim como um pranto amarrado na garganta, com as lágrimas prontas pra escorrer dos olhos. 
Me deixa ser o rio. Construir a paisagem, construir todo o caminho, toda a direção. Te mostrar que esse roteiro ainda mal começou, e que você não pode dar o rumo final dos teus personagens, sem continuar a acreditar que você ainda pode continuar a escrevê-lo. Me deixa ser o rio. Atira em mim as tuas pedras, deposita em mim os teus peixes, lava em mim as tuas mãos secas e sujas de terra molhada, e eu te carrego na minha correnteza, te mato a sede, te limpo, e te levo pra um porto novo, pra recomeçar.

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