quarta-feira, 2 de julho de 2014

Um Dia Como Outro Qualquer

Seria um dia como outro qualquer, querida. Apenas virar a página do calendário e seguir em frente, não é? Apenas olhar os ponteiros do relógio correndo, não é, querida? Porque estávamos tão acostumados com a rotina dos dias parados, que as nossas retinas já nem mais precisavam receber a luz para saber a imagem que estaria sendo decodificada e derramada em nossos olhos. Nós estávamos tão acostumados com o frio das paredes protegidas do sol pelas cortinas grossas que nos incomodava muito quando o sol invadia nossos cômodos e ousava trazer um pouco de sua luz quente para mudar a temperatura ambiente que criamos com tanto esmero aqui, em nosso lar.
Seria um dia comum, como sempre. Eu me levantaria, antes de você, iria até o banheiro, faria minhas necessidades, escovaria os dentes, lavaria o rosto. Enquanto estivesse terminando, você levantaria da cama e escoraria na soleira da porta e ficaria me olhando pelo espelhinho pequeno pendurado na parede, me assistiria enxugar o rosto na toalha como "um cachorro esfregando a cara na grama", como você mesmo costumava dizer. Tentaria te dar um beijo de bom dia, e você me ofereceria a bochecha, e diria "eu ainda não escovei os meus dentes, meu bem", e riríamos. Deixaria o banheiro para você usar, e então voltaria para a cama, só para esperar que você terminasse, e então, fôssemos juntos tomar o café da manhã.
Seria um dia como todos os outros, meu bem. Eu me levantei antes que você acordasse, fui até o banheiro, fiz as minhas necessidades, escovei os dentes, lavei o rosto. Quando já estava enxugando o rosto na toalha com cheiro forte de amaciante de lavanda, senti você se aproximar e se escorar na soleira da porta, ao meu lado. Te olhei, sorri. Puxei seu corpo contra o meu, e tentei beijá-la, porém, você virou o rosto, rindo, e disse que não me beijaria antes de escovar os dentes. Te soltei, então. 
Seria um dia como outro qualquer, querida. Porém, neste dia, aqueles 3 homens invadiram nosso quarto. Invadiram nosso quarto com um chute extremamente brusco, que a arrebentou, e você gritou muito alto. Tão alto, que um deles correu em sua direção, e te agarrou com muita força. Quando vi ele se aproximar de ti, e imaginei tudo que eles poderiam fazer contigo, eu corri para cima dele, com toda a minha raiva, minha revolta e meus reflexos. Os outros dois vieram para cima de mim, e eu reagia. Usava de meus braços e minhas perna e dos meus gritos para te defender de todo e qualquer mal. E eu o fiz, até ouvir o estouro. Os vários estouros. Cair no chão. E então, deixar que meu sangue, ainda quente de raiva, manchasse o carpete bege, recém trocado, de nosso quarto protegido do sol.

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