quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cretenses

Quando a hora é um tanto torta, e os dias se arrastam, eu me torno arredio. Eu recuo, eu me afasto, eu fujo até de mim. Em dias como esses, eu compro cerveja em qualquer boteco na rua, e acelero o meu carro bem rápido em direção a todos os muros que encontro na frente. Freio bem em cima. Deposito minha cabeça no volante, com o gargalo da garrafa encostado na boca, e choro e rio ao mesmo tempo. Um dia, quem sabe, um dia. Um dia eu não vou frear. 
Quando a rua é um tanto morta, e a tarde se arrasta, eu te procuro. Eu olho pra um lado, eu olho pro outro, eu olho pros outros. Eu tento localizar um sinal de você caminhando por todos os caminhos. Os prováveis, os improváveis, e os impossíveis. Mas os teus sinais estão por todas as partes. Eu, um tanto Ana Carolina, fico procurando em qual rua minha  vida vai encostar na tua. Parece que ainda está em processo de licitação. Essa via, pelo visto, ainda não foi construída.
Quando a noite é um tanto morta, e as horas se arrastam, eu leio o velho Buk e me recordo que o amor é um cão dos diabos. Uma fera mista de todos os monstros mais cruéis que imaginei, ou que li nos livros no decorrer da minha vida. Que vai arrancando os teus pedaços e te desfigurando e te desconstruindo e te transformando em algo que você nem reconhece mais. Mas, ainda assim, como Teseu no labirinto, nós procuramos e vamos atrás desse terrível Minotauro, pra podermos, ainda assim, chamar de nosso. Nosso amor. Nossa fera. "Fera, fera, fera. O que você quer para o café da manhã?"

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