domingo, 17 de maio de 2015

Sobre as horas passadas

Hoje, eu pensei em sacar todo o dinheiro que me resta do salário que eu tenho pra passar o fim do mês. Pensei em passar na esquina perto daquele hotel onde só param ônibus feios e velhos, e pedir pro cara que fica sentado ali na esquina tudo o que me resta em pó. Acho que conseguiria comprar umas 9 buchas de cocaína. O suficiente pra não dormir os próximos 3, 4 dias. Pra não sentir fome pelas próximas 2 semanas. Pra não acordar pelo menos até a próxima encarnação.
Hoje, eu pensei em dar voltas de carro, colocar uma música velha qualquer bem alto, abrir as janelas, dirigir apenas com a mão direita, revesando entre trocar a marcha e segurar o volante, e esticar o braço esquerdo pra fora e cantar muito alto e gritar "Look what they've done to my song, ma", forçando a voz pro meu timbre ficar cada vez mais parecido com a da Melanie Safka, o que, com certeza, acabaria me deixando afônico dia seguinte.
Hoje, eu pensei em procurar aqueles cds que você gravava pra mim, com as músicas que você mais gostava, comprar algumas pilhas para o meu velho e abandonado discman, e colocá-los pra tocar, pra tentar resgatar aquele pouco de você que eu deixei morrer há dois anos atrás, e que talvez eu não consiga recuperar nem em memórias, nesse processo de destruição de massa encefálica constante em que eu tenho me esforçado em manter.
Hoje, eu quis descer a pé a avenida da minha casa, e chegar até a sua, e sentar na frente do seu muro cinza e esperar você acordar e esperar você abrir o portão pra ir comprar pão pra sua avó e me ver ali sentado e perguntar o que eu estou fazendo e eu dizer que eu pensei em cheirar pó até morrer, ou cantar minhas desgraças com uma música qualquer dos anos 60, ou recuperar o pouco de você que resta em mim, mas eu decidi apenas esperar você acordar pra te dar bom dia e dizer que eu nunca pensei que o castelo que eu te dei era de areia e que seria destruído com a primeira onda do mar que batesse nas muralhas que eu construí, e que talvez eu só quisesse acreditar que eu não tivesse errado o planejamento de toda a minha arquitetura. E aí, eu iria te deixar seguir. Mas eu queria poder te ver.
Hoje, eu quis tanto e tanto não foi nada. Hoje, eu deitei na minha cama, e novamente, eu revi todo o seu ódio em suas palavras e eu quis não ter gerado tanta destruição com meus atos descontrolados. Hoje, eu planejei diversas coisas. Eu planejei.

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