segunda-feira, 29 de junho de 2015

domingo, 28 de junho de 2015

De Atlântida

Clarisse,

Desde o dia em que pisei no porto, algo me dizia que não deveria entrar naquele navio. Uma força me impelia para longe, tentava me manter distante. Ouvi a tua voz todas as noites que antecederam ao dia em que o navio partiria. Você me dizia, com sua voz calma e suave, de que eu deveria ficar. De que eu deveria voltar. Quando acordava, porém, isso me dava ainda mais força para ir contra o teu pedido, pois eu sabia, Clarisse, que mesmo se eu ficasse, você não abriria tuas portas pra me ver.

sábado, 27 de junho de 2015

(prólogo coagulatório)

justamente quando a paz está instaurada
os meus olhos cruzam o teu espectro
amarram minhas cordas no teu porto
observam os meus dias serem talhados na madeira que tem o seu nome

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A Validade da Existência

Existem coisas que não sei explicar. Essa falta de toques que desconheço, a saudade do cheiro que nunca senti, o desejo de sabores que nunca provei. Estar orbitando nessa realidade que criamos em torno de nós dois, e de nossos versos esporádicos, e que ao mesmo tempo me confunde e me espanta, me mantem seguro em um cosmos puro e suave.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Do inverno

Clarisse,

Quanto o vento frio encosta na minha pele, e os meus pelos ficam eriçados, eu sinto que ainda exite algo de vida pulsando dentro de mim. Em vários momentos destes últimos dias, eu tenho me esquecido que ainda respiro. Fico sem ar, trancam-me as narinas, fecha a traqueia. E aí, essa brisa congelante me faz puxar o ar muito forte,e muito rápido, me deixando ofegante e assustado. Não era a hora de parar de fazer o sangue circular. Ainda não.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Rimas Assoantes

Foi naquele teu abraço. Houveram promessas, eu sei. No meio dos versos da tua poesia, existem espaços vazios. Pretendi preencher, mas os nomes ainda se misturam como numa criação dadaísta. Em uma versão mais triste e deprimida de Tristan Tzara, você joga as palavras ao vento e o meu nome não estava no teu saquinho de recortes. Mas, houveram promessas, eu sei.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Nas Partículas do Vento Abaixo de Zero

As ruas tem cheiro de podre, menino. Eu sinto sair dos bueiros, das bocas dos transeuntes, das almas mais sujas. Já não acredito mais na pureza humana, não. Foram tantas as decepções, os ataques e os furtos, que só me sobraram sentimentos ruins e pequenos sobre tudo que nos rodeia enquanto seres viventes dessa selva de insanidade e abuso. Só percebo que está tudo podre, e que eu me perdi em bolor e mofo nesses dias escuros, menino.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dos becos escuros

Clarisse,

Enquanto me perdi em versos, você passou a chave nas portas pela parte de dentro. Tentei chamar o teu nome, este que todos conhecem, e também os que eu te sussurrava no ouvido, e que só tu sabes. Porém, de nenhuma destas mulheres que existem - e que criamos - em ti, eu recebi uma resposta.

domingo, 14 de junho de 2015

Reencontro

Reformulei a mesma pergunta, diversas vezes, com palavras diferentes, para talvez obter resultados diferentes no tarot. Reescrevi teu mapa astral, diversas vezes, desejando que ao menos a cidade que você nasceu estivesse errada, em outro lado do planeta, em outro hemisfério, para que o posicionamento dos teus astros me dissessem algo diferente do que me diziam.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Carta de Fundo de Gaveta; ou a desconstrução de verdades cortantes

Quando reconstruo em minha mente aqueles dias, tudo parece quase como uma ilusão. Um sonho estranho, uma lembrança incompleta. Uma verdade desconstruída. Parece, querido, que eu me desmontei de passado pra me desarmar de feridas. Pra não tocar as cicatrizes, eu baguncei as páginas desse diário de mim e cobri todas as partes que estavam expostas com nanquim. Mas, não foi de muita valia. É como cobrir tatuagens. Por mais que exista outro desenho por cima, ainda sei o que havia escrito embaixo das novas flores com passarinhos.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Inocente

A culpa é do café que está quente demais, queimando meu céu da boca. Da água que não ferveu o suficiente, e esfriou rápido demais o meu chá, deixando com um gosto amargo. Da noite que chegou muito cedo, diminuindo o meu tempo de ter vontade de fazer alguma coisa. Do sol que nasceu antes do horário, e me fez ter menos horas de sono.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O Peso da Despedida

Essa distância é que machuca, pequena. Tento viver o máximo dos teus dias, e dos teus toques, e das tuas palavras quando estou contigo, mas algo insiste em ficar me lembrando, todo momento, que é necessário voltar. Que há uma vida lá atrás, no caminho que eu deixei, e que essas horas são passageiras e que eu preciso pegar o caminho de volta e te deixar só. E me deixar só. Mesmo sabendo que o que vai é o meu corpo, e que nós ficamos de mãos dadas por todo o caminho de volta, e enquanto eu estou aqui, e você aí, as nossas mãos continuam juntas, e não se separam nunca. Essa distância é só o que machuca. 

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sobre Partir

Se for pra partir, que parta de uma vez. Se destrua em pedaços, se desfaça em milhões, esfarele no chão até não mais existir. Moa todos os pedaços com as mãos, pise em cima, esfregue no assoalho, até não sobrar vestígio. Varra o pó pra fora, deixe se misturar com as folhas e com o vento e que tudo isso voe para muito longe daqui. Para muito longe de mim.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Ao Brilhar

Se não é o seu sorriso, simplesmente não é. 
Não há luzes na avenida, não há foco nesse farol. Se o brilho não é o seu, simplesmente não é.
Que o universo conspire, que ele exploda e recomece, e nessa imensa supernova, o teu sorriso se refaça.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Desalinhado

Senta aqui ao meu lado, e me conta. Pode ser sincero, não há o que esconder. Não há nada que eu já não tenha notado, que eu não tenha percebido. Que você já não está mais aqui, que seus olhos já não passam mais pelas mesmas paisagens que os meus, que os teus sonhos diferem em cores e traços dos meus pesadelos escuros e sem formas definidas.