domingo, 26 de julho de 2015

De Encélado

Clarisse,

Sentindo-me sempre um satélite solitário, orbitando no universo que você construiu com uma explosão de reclusões e silêncios, encontrei companhia nos objetos que flutuam ao redor de Saturno. Ironicamente Saturno, cujos anéis eu tentei, incansavelmente, roubar para dar-te em presente da devoção imensurável que sinto pela tua existência.
Encontrei na egrégora da órbita do grande Cronos porto seguro para meu soma cansado, descarregado, e necessitando de auxílio, de uma luz nova. Um arco voltaico que volte a me encaminhar para a trilha que eu me perdi tentando alcançar a tua rota escura e sem guias. Perdi os meus guias para alcançar os teus, mas eles já haviam pedido distanciamento e seguido para outros amparos.
Sentando-me aos pés de um dos diversos criovulcões do satélite extremamente gelado, sentia atrás de mim os vapores que se emanavam pelo espaço, e criavam uma espessa nuvem que se propagava pelo universo. Fazia questão também, Clarisse, de misturar aos gases todas as minhas angústias, as minhas tristezas. As decepções que acumulei, as culpas que assumi para mim, e que nem são inteiramente minhas.
Assim como Encélado, Clarisse, você se congelou em uma órbita completamente sua, e não permitiu que houvessem rastros de vida possível em lugar tão frio e inalcançável. Distante de tudo que possa ser considerado terráqueo, você emanava sua baixa frequência e me afetava e acumulava ao redor de mim todo este peso, criando o meu próprio anel de Saturno, com tudo que eu permiti rotacionar nos meus dias.
Tento então, diariamente, Clarisse, me limpar dos karmas que não me pertencem, que eu assumi para tentar limpar os teus caminhos. Mas essa luta, porém, tem que ser sua, unicamente sua. Estou aqui, no entanto, ainda querendo te ajudar. Querendo diminuir o teu frio de Encélado, e vencer contigo a gigantomarquia que você, internamente, trava todos os dias.

Com hipotermia e silêncio,

seu James Dean

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