terça-feira, 17 de novembro de 2015

A Harmonia dos Dias

Tá todo feito de idas e vindas, todos os entornos dos dias
Tá todo feito de passos incertos, caminhos estranhos, e atalhos espinhosos
As notas de rodapé já perderam o sentido, e você continua a anotar no cantinho do papel os nomes que você criou pra se perder e pra não esquecer
O que você pensa em esquecer depois que virar a curva, afinal?
Tá gelada a chuva, viu?
Lá fora, as gotas caem como lâmina e te cortam a pele sem dó
E quando eu falei e avisei e aconselhei, as minhas palavras que eram pra ser escudo, eram repelidas automaticamente
Eu te falei
Que tava frio lá fora, que a chuva cai e machuca, que o corpo dói nos espinhos, que a carne sangra nos caminhos
Eu não sei porque temos que nos machucar tanto, afinal
Afinal, por que não simplesmente ficar?
Por que não simplesmente admitir que perdeu e que passou e que o jogo agora é outro que as peças no tabuleiro não se movem mais em diagonal e que o único passo diferente nessa regra é o
Seu
Simplesmente o seu
Toca outro disco, muda essa playlist, transforma todo o ritmo down do início dos anos 90 por uma melodia mais feliz estilo meados dos anos 2000
O século XXI já entrou e você ainda fica preso nas vidas passadas que, pra sua infelicidade, você não viveu ou não se recorda claramente
E nessas valsas tortas que você acha que conhece todos os passos, ao entrar na pista achando que ia ser cortejado ao estilo da Dança Vitoriana, viu que ninguém ali te entendia enquanto movia aos pés num belo Foxtrote
Por isso que, por mais que novamente você não vá me ouvir, e que eu esteja jogando um pouco mais de energia fora, eu insisto em tentar aqui, pela última vez:
Fecha esse moleskine velho que já aniversaria um século ou um pouco mais, e esquece esse diário de lamentações inválidas
Abre um caderninho novo, muda essa caligrafia, pinta um novo olhar pra essa realidade
Busca uma outra rodovia, mas que seja bonita e pura, sem os velhos outdoors com cara de passado, sem as árvores mortas que você insiste em carregar de herança
Sem o trotar dos cavalos que soam como velhas vozes, sem olhar para trás procurando quem ficou

Nenhum comentário:

Postar um comentário