Eu persegui os
olhos dela, com cautela, enquanto ela atravessa o salão. Eu, como sempre,
estava sentado, de maneira desleixada, em uma das cadeiras encostadas na
parede. Não, eu não sou um daqueles jovens estereotipados de filmes americanos,
que estudam demais, não têm amigos, e que vão às festas apenas para depois
chegar em casa e se lastimar de sua vida medíocre. Eu apenas aprecio observar,
à distância, os hábitos dos meus colegas depois de certo nível de álcool e
qualquer outra droga. Também não vou à festa e fico sem consumir nada. Muito
pelo contrário. Por várias vezes, eu sou o que mais bebo, o que mais fumo, o
que mais cheiro. Mas, ainda assim, não mudo minha atitude. Fico sentado, em
algum lugar, observando as pessoas que estão a dançar, cambalear, tropeçar,
cantar, vomitar, beijar, se entrelaçar nos sofás, fumar maconha, passar pacotes
de cocaína de maneira disfarçada, desmaiar, gritar. Vezenquando alguém vem ao
meu lado, e conversa algo comigo. Normalmente, as pessoas que nunca frequentaram as nossas festas. Que não conhecem os meus hábitos. Meus amigos de
longa data não mais questionam. De início me chamavam de tedioso, chato. Até de
inconveniente. Até o dia em que comecei a contá-los sobre o que observava, e a
maneira como observava, suas atitudes no decorrer dos eventos. Achavam
interessantes minhas colocações, o fato de eu não pontuar vestes, cabelos,
maquiagens, e sim, fazer uma análise extremamente psicológica dos seus atos.
Admiravam também o fato de que eu não chegava até eles para contar sobre as
atitudes dos outros. Para fazer fofoca, criar intrigas, causar discórdias e
discussões. Eu chegava até as pessoas, para falar delas mesmas. Para eu contar
como eu as observei, apenas para a pessoa. Sem falar para mais ninguém. Alguns
diziam que eu os via como eles realmente eram, e ficavam lisonjeados,
admirados, surpresos. E outros, principalmente aqueles que eu conseguia
visualizar profundamente, todos aqueles caminhos extremamente obscuros, que
procuravam esconder de todas as maneiras, sentiam-se invadidos, perseguidos,
ofendidos, ameaçados. Alguns desses se afastaram de mim. Eu, sinceramente, não
sinto a menor falta.