Ela estava ali de novo. Parada. Estática. Parecia nem respirar, nem piscar. Era tão fria, tão centrada nela mesma, que parecia esquecer de que seu corpo necessitava de oxigênio e que seu olho precisava ser umedecido regularmente. Ela estava ali de novo. Como já fazia a dias. Parada, apoiada no balcão. Ninguém a conhecia ali. Era uma estranha. E era linda.
Até eu, que nunca reparava em ninguém, que me mostrava indiferente aos outros, notei nela. Já faziam 5 dias que ela ali aparecia. Se apoiava no mesmo ponto do balcão, olhava para a porta, e ficava um bom tempo, de 1 a 2 horas, apenas olhando, sem pedir nada, sem se mover.
No primeiro dia, o balconista chegou e perguntou se ela queria alguma coisa. Ela nem se moveu. E desde o primeiro dia que a vi, eu acumulava pontos de coragem para chegar e conversar com ela. E agora, eu sentia que já tinha a coragem necessária.
Fui andando até ela, e todos os outros me acompanhavam com o olhar, talvez apenas querendo ver o que eu iria fazer, talvez querendo me ver desgraçado ou ignorado, por inveja da minha coragem, ou por simples desgostode viver.
E eu cheguei nela, parei em sua frente, abri um sorriso
- Olá.
Ela, pela primeira vez, piscou seus olhos, olhos estes que encararam os meus, e, para minha surpresa, a dona destes mesmos olhos fizera a fenda de sua boca se abrir e se transformar num belo sorriso.
- Olá! Como vai?
E desta ação dela, pude notar que sim, pela primeira vez, eu pude notar que talvez eu não fosse um total idiota, e que eu fizera alguma coisa certa. Que talvez nós pudéssemos dar certo...
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