sábado, 1 de setembro de 2007

Não tão Estranho

Ela estava ali de novo. Parada. Estática. Parecia nem respirar, nem piscar. Era tão fria, tão centrada nela mesma, que parecia esquecer de que seu corpo necessitava de oxigênio e que seu olho precisava ser umedecido regularmente. Ela estava ali de novo. Como já fazia a dias. Parada, apoiada no balcão. Ninguém a conhecia ali. Era uma estranha. E era linda.
Até eu, que nunca reparava em ninguém, que me mostrava indiferente aos outros, notei nela. Já faziam 5 dias que ela ali aparecia. Se apoiava no mesmo ponto do balcão, olhava para a porta, e ficava um bom tempo, de 1 a 2 horas, apenas olhando, sem pedir nada, sem se mover.
No primeiro dia, o balconista chegou e perguntou se ela queria alguma coisa. Ela nem se moveu. E desde o primeiro dia que a vi, eu acumulava pontos de coragem para chegar e conversar com ela. E agora, eu sentia que já tinha a coragem necessária.
Fui andando até ela, e todos os outros me acompanhavam com o olhar, talvez apenas querendo ver o que eu iria fazer, talvez querendo me ver desgraçado ou ignorado, por inveja da minha coragem, ou por simples desgostode viver.
E eu cheguei nela, parei em sua frente, abri um sorriso
- Olá.
Ela, pela primeira vez, piscou seus olhos, olhos estes que encararam os meus, e, para minha surpresa, a dona destes mesmos olhos fizera a fenda de sua boca se abrir e se transformar num belo sorriso.
- Olá! Como vai?
E desta ação dela, pude notar que sim, pela primeira vez, eu pude notar que talvez eu não fosse um total idiota, e que eu fizera alguma coisa certa. Que talvez nós pudéssemos dar certo...

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