terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Eu Que Nem Me Conheço Mais

Ele acordou, no mesmo horário de todos os dias, e como sempre, se enrolou um pouco em sua cama, pensando em como seria o seu dia. Se levantou, seguiu ao banheiro, lavou seu rosto, e se olhou no espelho. Sorriu. O seu sorriso era algo que ele se obrigava a treinar diariamente, para, ao fim de suas conversas, na verdade, monólogos que usava para se vangloriar, sorrir, e mostrar que, sim, ele era um homem auto confiante.
Um homem. Causou tantos problemas a sua família, e a todos ao seu redor, que foi obrigado a se tornar um homem. Sair de casa, sair da cidade. Mudar de vida. Começou a estudar. Faculdade de Publicidade. E o que ele mais fazia, era estudar para aprender a se vender.
É verdade, ele conseguia muito bem, sendo o possuidor de uma lábia fenomenal.
Ninguém jamais soube da sua real verdade, da origem de sua família. Dizia ser filho de um homem rico, possuidor de empresas espalhadas por vários lugares do país, que cuidavam desde negócios com Bolsa de Valores até com Importação e Exportação de alimentos. Era filho único, e vivia num apartamento que o pai comprara para ele na metrópole paulista, aonde foi morar.
Para todos, ele havia escolhido viver ali pois, a cidade era grande, assim como ele próprio.
Ninguém sabia, que, toda manhã, quando ele se olhava no espelho, e sorria, ele via por trás do sorriso aquele garoto que sofreu, por ter vergonha da família que possuía. Um pai que trabalhava a anos na mesma empresa, no mesmo cargo, e não fazia nada para mudar.
Ele tinha vergonha da falta de esforço do pai, e raiva por ter tomado essa estagnação como herança.
Ele não queria mais ser quem ele era. Estudou muito para entrar numa faculdade pública, para gastar o dinheiro que o pai lhe mandava, com muito custo, diga-se de passagem, com roupas, aparencia.
O apartamento onde morava, era deprimente, mesmo dizendo aos outros que era luxuoso. É claro, ninguém jamais pisaria lá. Além dele próprio.
Ele se odiava, mas tinha que parecer confiante. Ele tinha que vencer na vida. Se esforçar, se ultrapassar, parecer melhor, para que talvez, um dia, ele mesmo consiga se orgulhar dele. Ele, até mais do que seu desejo de mostrar aos outros seu triunfo, queria provar para si mesmo que ele podia, quem sabe, ser bom.
E assim ele começava seu dia. Sorrindo, e mentindo. Porque, com o passar do tempo, a sua mentira se torna verdade, e o seu sorriso forçado, um sorriso real.
Era nisso que ele queria acreditar, e por isso ele lutava sem cessar.
Nem toda a mentira é pecado. Nem toda a omissão é em vão. Nem todos nós seríamos totalmente compreendidos se toda nossa verdade viesse à tona.

5 comentários:

  1. Verdade, ngm vive sem um pouquinho de mentira na sua história.

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  2. Nossa.

    É uma mentira que anda.

    Um dia tem seu dia de fúria e vira capa de jornal. =p

    Bom texto. =D

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  3. "Nem toda a omissão é em vão. Nem todos nós seríamos totalmente compreendidos se toda nossa verdade viesse à tona." Eis uma verdade! Penso q omitir a nossa verdade é um recurso para sobrevivermos.
    Gostei do blog, seus textos são muito bons, me fazem refletir.

    Bjs.

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  4. Nossa, você tem razão. A gente só sobrevive com essas pequenas mentiras. Dizer que está tudo bem quando na verdade não está...

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  5. Ah, essas mentiras...
    bjus e bom restinho d semana
    http://blogdapattyandrea.blogspot.com

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