Carrego comigo as pétalas das rosas. Depositadas, secas, as flores sobre o altar mofado. Os olhos vazios fitando sombriamente os galhos cinzas. Os rostos cinzas afundando em pele os globos secos. Uma realidade contrária, um órgão pulsante vagando alto sobre as cabeças de espectros. Sobre o altar, um órgão mofado, um conjunto de carbono devorado lentamente pelos micróbios que se tornam, na mesma velocidade, parte daquele bioma. Micróbios mais famintos em olhos secos. Vidrados fitando as flores sem cor. Uma paisagem funesta.
Parcialmente ofsucado pelo ar cinza que sai dos poros das paredes, faço parte do ambiente como um banco de madeira. Mofado. Mas com olhos que piscam, um órgão pulsante. Perscruto os cantos com os olhos vivos encontrando uma porta para entrar em algum lugar. Aqui, estou fora. Exposto. Uma presa em potencial, que carrega consigo as pétalas roubadas das flores não merecidas, desperdiçadas sobre um conjunto de carbono mofado que não mais pulsa. Os olhos secos sem lágrimas choram sangue choram urina choram vida e secam os rostos e a pele e se tornam cinza. Sentindo os fluídos que caminham velozes sob minha derme fina, reajo ao vazio, levando o cheiro do mofo em minhas vestes, o som do silêncio e do gotejar de líquidos, restos de pó em minhas calças negras. E levando comigo as pétalas das rosas.
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