Quando olho para a porta aberta, me questiono se quem vai e não voltou na verdade nunca esteve, pequena. Se os dias eram armadilhas prontas para morder-me os calcanhares e mastigar-me as certezas. Certezas, afinal, quem as têm?
A única que carrego comigo desde os dias longínquos de uns séculos atrás, é a de que eu deixo sempre a porta aberta esperando que você não precise bater para entrar. Depois de tanto tempo, as luzes já não acendem mais e o musgo tomou conta da soleira. Sei que pode ser amedrontador, e que talvez pouco convidativo, e isso te mantem receosa, do lado de fora.
Pode ser desleixo meu, essa bagunça generalizada, e talvez essa casa já não seja mais habitável, mas eu ainda permaneço aqui esperando você tomar coragem e entrar na sala empoeirada e repleta de aranhas. A casa, porém, jamais será a mesma.
Quando (e se) você retornar aos territórios que dividimos, será necessário compartilhar novos espaços, de novas formas. Com outras nuances, outras verdades. Outras certezas, outras dúvidas. A moradia que somos já não tem mais a mesma forma, é decorada com outros versos. As canções não serão as mesmas, os verbos se conjugarão em outro tempo.
Quando olho para a porta aberta, me questiono se quem vai e ainda não voltou poderá voltar um dia, pequena. Não voltar para morar, nem voltar para continuar do ponto em que parou, pois já não há como retomar. Voltar, quem sabe, para construir um novo lar, com outros tijolos, e distintas poesias.
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