quinta-feira, 23 de abril de 2020

o dia que eu deixei de te amar

estava frio e cinzento
no dia que eu deixei de te amar
nublado, como dias de inverno sempre parecem ser
as nuvens se acumulando nas bolsas dos olhos
os trovões se espalhando nas paredes do meu estômago

não me pergunte o que foi que você fez
não foi nada
e foram várias coisas

foram atitudes e escolhas suas
somadas com decisões e ações minhas
multiplicadas pelos meus medos e meus traumas
e seu passado e suas bagagens
potencializados pelas nossas características, nossas personalidades
nosso caráter

no dia que eu deixei de te amar
eu senti toda a dor de ter que te deixar ir embora
porque eu sabia que sua falta eu sentiria
assim como eu sinto em todos os dias que eu não te vejo
mas ao mesmo tempo
eu estaria liberto do sentimento de ter que sentir algo que eu já não sentia
e de me forçar a esboçar palavras em minha boca
que minha mente já não mais formava
e que meu corpo não conseguia mais traduzir
sentir sua falta hoje é necessidade de preencher os espaços físicos
de completar as lacunas de carência
mas não mais de querer ser enxergado como seu companheiro
quando eu sei que a partir de hoje
eu deixo de te amar

não quero que você se culpe
ou se questione do que teria que ter sido feito diferente

durante todo o tempo que passamos juntos
fomos um casal, fomos uma só entidade
e fomos várias pessoas
nos moldando de acordo com as nossas necessidades
e com os nossos desejos
fizemos o que a regra pedia,
quebramos todas as nossas próprias leis
escrevemos a nossa própria história
com prólogo,
introdução,
desenvolvimento,
alguns apêndices,
alguns clímax,
diversas reviravoltas

se eu sento agora pra te dizer que vá embora
não é para desistir de si
ou desistir de se feliz
nem para desistir de mim

se faço isso, é por saber que o que eu tinha para oferecer
se esgotou nas últimas lágrimas, nas últimas discussões
nas últimas vezes que ainda viver esta história
me fez duvidar de mim, e de quanto eu me entreguei 
e que me fez começar a deixar de me amar
para suprir um amor que eu talvez não tenha mais para dar

se eu sento agora pra te dizer que vá embora
é porque escrevemos a nossa própria história
e como todos os livros que lemos
é necessário que alguém pegue a caneta
e escreva as temidas palavras
o fim

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