Era quase noite. Conversávamos sobre corpos. Os mais curvilíneos, os mais retos, os mais belos. Viamos o tempo passar quase como se estivesse parado. A cada vez que olhava ao relógio parecia que estava retrocedendo ao invés de seguir em frente, tamanha era a lentidão a das horas.
Passeamos por todos os assuntos, de artes a política, de futebol a telenovelas, e agora, quando não havia mais como fugir. Falavamos sobre os corpos.
Os corpos deles, os corpos delas. Os corpos mais quentes, os mais frios. Os mais viris, os mais mirrados. Os corpos que eram melhores que o meu, melhores que o dele.
E cada corpo mencionado, retratado, comentado, fazia com que uma parte do meu corpo e do corpo dele fosse arrancado, diminuído. Em cada corpo que tocamos em segredo, deixamos um pedaço nosso que não voltará mais.
Depois de muito adiar o fim, e de aumentar em exagero as feridas no vazio, saímos. Fui embora, com o que sobrava dos meus pés. Ele ficou, com as mãos sobre a mesa, tateando no escuro, procurando a chave do carro.
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