Dentro das produções artísticas e culturais de nossa cidade, visualizamos algumas movimentações que nunca tínhamos tido antes: a preocupação com a legalização de grupos; o interesse em formação de cooperativas para que, unidos, possamos desenvolver projetos para divulgação e expansão de nossos trabalhos; o desenvolvimento de conferências, reuniões, que discutam o trabalho dos promotores culturais; a conquista de espaço e respeito dentro do meio que estamos inseridos. Este último ponto, de conquista de espaço, sendo extremamente importante para o crescimento e o desenvolvimento da arte iguaçuense, pois é de conhecimento geral que (falando principalmente do meio artístico no qual estou inserido, o teatro) não possuímos grande reconhecimento por parte da sociedade local. Não há a busca nem o interesse de nossos cidadãos por nossas montagens, não achando justo pagar 10, 15 reais para nos assistir, mas considerando válido pagar 30 reais para assistir peças de comédia escrachada, stand-ups com piadas batidas e textos vazios, vindo de outras cidades.
Nós, do Teatro do Excluído, temos como proposta, desde o início do trabalho de nossa nova formação, há um ano, além do estudo teatral, do desenvolvimento de um teatro que valorize a palavra e fuja do convencional, levando nosso espectador a um nível de experiência jamais presenciado em outros ambientes, procuramos também, dentro de nossas possibilidades, desenvolver um trabalho de excelência, trazendo para o público iguaçuense um teatro que seja respeitado, e que respeite também o intelecto e o acesso a estas plateias. Alcançamos nossos objetivos com nossa primeira peça, e somos gratos a nossa cidade, aos nossos conterrâneos, que abraçaram nosso projeto e que estão ao nosso lado em nossos novos caminhos.
Porém, somos apenas um entre os grupos que desenvolvem seus trabalhos na cidade, e nós, sozinhos, não podemos modificar esta imagem ruim que se desenvolveu sobre os artistas. Por este motivo, muito nos entristece quando vemos grupos que repetem montagens há anos, sem trazer nada de novo, e o pior, quando o fazem, utilizam-se de textos de terceiros, sem autorização prévia e pagamento de direitos autorais aos dramaturgos. Devemos entender que direitos autorais não são apenas taxas obrigatórias, impostas pela legislação. Direito autoral é respeito ao dramaturgo, a obra que este disponibilizou para que seja montada. Porque o dramaturgo quer, sim, que suas obras sejam montadas, sejam utilizadas, porém, ele também precisa sobreviver, e vários vivem de seus textos. Assim como o ator quer o reconhecimento do seu trabalho, o mesmo espera o dramaturgo.
Nos incomodamos também com a disponibilidade de grupos de nossa cidade em desenvolver projetos, trabalhos, que não tenham nenhum tipo de ligação com o teatro. Há uma vontade muito grande de se ganhar espaço e visibilidade, o que é muito válido, porém, para alcançar este objetivo, alguns grupos agem em desespero e aceitam se envolver em recepções de eventos, desfiles, comerciais, intervenções, que criam uma imagem de que os grupos estão dispostos a qualquer coisa, sem tomar qualquer decisão mais pensada, nem avaliando os resultados que isso podem ter. Organizam-se para produções que nada tem a ver com o teatro, nada tem a ver com o crescimento do ator, do diretor, deixando, assim, o teatro de lado.
Dentro do Teatro do Excluído, utilizamos nosso tempo, além de ensaios, para estudos estéticos, busca em melhoria de nossa compreensão do teatro, lendo tudo que nos influencia, e também o que não utilizamos como referência, para que possamos ter argumentos para repudiá-los. Todos os integrantes do Teatro do Excluído se preocuparam também com a compreensão da dramaturgia, participando do Núcleo de Dramaturgia do SESI, e todos produzem textos que podem ser produzidos pela própria companhia, e por outras companhias, se assim o quiserem.
Esperamos que haja uma maior preocupação dos movimentos artísticos teatrais de nossa cidade em um amadurecimento teatral, pois há grupos teatrais em Foz do Iguaçu que fazem muitas coisas, menos teatro. Não podemos primar por uma visibilidade em trabalhos que não sejam do foco no qual queremos ser vistos. Deve-se utilizar o tempo tomado para a preparação dos grupos e no desenvolvimento de peças mais elaboradas, para que definitivamente possamos ganhar o respeito de público, tanto de nossa cidade quanto de outros lugares. Caso contrário, continuaremos com a imagem de uma cidade que se estabelece com um teatro amador, sem respeito próprio, e disposto a qualquer coisa para chamar a atenção.
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