sábado, 29 de dezembro de 2012

Fraterno

Foi insistente em dizer que era culpado. Não queria apresentar álibi, nem pagar fiança – por mais que tivesse condições para isso. Disse que matou-o a sangue frio, sem pensar duas vezes. Nunca havia desejado vê-lo morto, mas quando o viu deitado no sofá, começou a imaginar o sangue escorrendo de seu pescoço por todo o tecido branco encardido, penetrando no estofado mofado do móvel antigo, herdado de seus avós.


 Dizia que era culpado, que podiam fazer testes de DNA com os pedaços de pele que – com certeza – existiram debaixo das unhas do irmão. Que os vestígios humanos ali presentes, seriam dele. De quando o irmão tentou afastar o punhal que usara para cortar o pescoço da vítima, de fora a fora.
Por mais que o delegado dissesse ser impossível, pois o jovem havia sido morto durante o período em que o suposto culpado estava em seu trabalho – conforme já havia sido comprovada por câmeras de segurança –, este esbravejava, socava a mesa do oficial, e bradava que era o assassino de seu irmão.
Para acalmar os ânimos do confesso, o delegado mandou levá-lo para exames, para verificar se havia sangue da vítima em seus poros, em suas unhas. Pediu também para que o levassem conversar com psiquiatras, terapeutas, para que talvez o fizessem admitir que não era culpado, para tentar entender o porquê querer ser julgado e preso por um crime que – obviamente – não cometera.
Após horas de conversa, de exames e de terapia, ele confessa. Confessa que não o matara, mas que gostaria de tê-lo feito. Que teve sua vida toda interrompida por aquele que nunca fizera nada, que como podiam ver, dormia no sofá enquanto ele trabalhava, e ainda assim, era repleto de regalias. Gostaria de tê-lo matado, sempre o tivera para odiar e agora não existia mais. Gostaria de ter sentido o sangue do irmão escorrendo por entre seus dedos. E como alguém o fizera antes, ao menos gostaria de ser incriminado pelo seu desejo.

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