No próximo ato ele irá abraça-la. Ternamente.
Colocará a mão direita em suas costas e, segurando em sua mão esquerda, fará
com que ela incline seu tronco para trás, inclinando seu próprio sobre o dela,
como se dançassem. Mas estão parados, ambos.
Os olhos vidrados. Um encarando o outro. Os
dois corpos imóveis, como estátuas. Como que enfeitiçados, esperando que o
feiticeiro que os petrificou os tire daquela situação.
Como se presos aos olhos um do outro.
Reinavam solitários na sala vazia. As
paredes, o teto e o chão completamente brancos, assim como suas vestes e a pele
de ambos.
As primeiras gotas que chegaram ao chão eram
de um tom diferente do chão. Ou do teto. Ou das vestes de ambos.
No próximo ato, ele entrará por um
alçapão no teto em uma sala completamente branca. Sempre chegava ao mesmo
lugar, só não sabia como. Quando se dava conta, voltava sempre ao mesmo lugar.
Não sabia mais o caminho de casa. Começara a cogitar a ideia de chamar o imenso
bloco pálido de lar. Talvez o fosse. Talvez não.
Talvez não.
Orava todos os dias antes de dormir.
Acreditava ter sido uma boa pessoa durante toda sua vida, e que encontraria a
salvação que lhe prometeram desde criança.
Seguia todos os preceitos cristãos.
Orava todos os dias antes de dormir.
Amém.
No próximo ato, ele encontrará uma
moça jovem dentro de sua casa. Não conseguia entender como aquela garota
entrara em seu recinto. Como ela conseguira encontrar um lugar que nem mesmo
ele sabia onde se localizava. Ele não soube explicar.
Olhava a ela com temor, mas também
com admiração. Era bela. Sabia que era jovem, apesar da pele extremamente
pálida, da feição abatida e dos cabelos completamente brancos. Sabia que era
jovem. Ou que um dia fora. Apenas percebia a pureza naquela que estava em sua
frente.
Ao final do ato, ambos estão
deitados.
As luzes se apagam, e o bloco fica
completamente escuro. Preto.
Não é mais possível visualizar os
dois corpos imóveis.
Ele com as mãos nas costas dela, ela
com a mão sobre o peito dele.
Aquele foi um dia difícil, eles
apenas precisavam descansar. Todos os dias têm sido tão complicados desde que
elas todas se foram.
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