quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O homem que venceu o banco imobiliário


No próximo ato ele irá abraça-la. Ternamente. Colocará a mão direita em suas costas e, segurando em sua mão esquerda, fará com que ela incline seu tronco para trás, inclinando seu próprio sobre o dela, como se dançassem. Mas estão parados, ambos.
Os olhos vidrados. Um encarando o outro. Os dois corpos imóveis, como estátuas. Como que enfeitiçados, esperando que o feiticeiro que os petrificou os tire daquela situação.
Como se presos aos olhos um do outro.
Reinavam solitários na sala vazia. As paredes, o teto e o chão completamente brancos, assim como suas vestes e a pele de ambos.


As primeiras gotas que chegaram ao chão eram de um tom diferente do chão. Ou do teto. Ou das vestes de ambos.



            No próximo ato, ele entrará por um alçapão no teto em uma sala completamente branca. Sempre chegava ao mesmo lugar, só não sabia como. Quando se dava conta, voltava sempre ao mesmo lugar. Não sabia mais o caminho de casa. Começara a cogitar a ideia de chamar o imenso bloco pálido de lar. Talvez o fosse. Talvez não.
            Talvez não.


            Orava todos os dias antes de dormir. Acreditava ter sido uma boa pessoa durante toda sua vida, e que encontraria a salvação que lhe prometeram desde criança.
            Seguia todos os preceitos cristãos. Orava todos os dias antes de dormir.

            Amém.


            No próximo ato, ele encontrará uma moça jovem dentro de sua casa. Não conseguia entender como aquela garota entrara em seu recinto. Como ela conseguira encontrar um lugar que nem mesmo ele sabia onde se localizava. Ele não soube explicar.
            Olhava a ela com temor, mas também com admiração. Era bela. Sabia que era jovem, apesar da pele extremamente pálida, da feição abatida e dos cabelos completamente brancos. Sabia que era jovem. Ou que um dia fora. Apenas percebia a pureza naquela que estava em sua frente.


            Ao final do ato, ambos estão deitados.
            As luzes se apagam, e o bloco fica completamente escuro. Preto.
            Não é mais possível visualizar os dois corpos imóveis.
            Ele com as mãos nas costas dela, ela com a mão sobre o peito dele.
            Aquele foi um dia difícil, eles apenas precisavam descansar. Todos os dias têm sido tão complicados desde que elas todas se foram. 

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