Concreto. Tão consolidado quanto. As rochas contra as quais seu pai se atirara.
A base sólida do lar. A família exemplar, os olhos dos vizinhos penetrando nas paredes bem construídas de nosso lar intocável. A cidade nova, os novos amigos, a casa. A casa nova. O mesmo lar. Mas, a casa é nova.
Havia um novo pai. Mamãe insistia em dizer que era o pai. Papai. Mesmo quando ele a tocava, como quando tocava em mamãe. Ainda assim, um novo pai. A figura masculina que deveria existir dentro do lar. Dentro das mulheres do lar.
O novo papai trabalhava apenas pela manhã. Durante o mesmo horário em que ela estava na escola. Mamãe trabalhava o dia todo, não voltava para almoçar. Deixava algo pronto para que ambos comessem quando chegassem de seus afazeres. Ela, porém, não sentia fome.
Era a melhor aluna da classe. Não comia, não sentia fome. Era magra, exemplo de contorcionismo, de velocidade. De correr, ela entendia muito bem. Não costumava contar nada para mamãe. Ela talvez não entenderia. Ou diria que era natural. Não tinha sido assim com o outro papai, pois o outro papai havia morrido muito antes. Se jogara contra as pedras.
Eram a família exemplar. Um lar concreto. Todos os sorrisos, toda a inveja das vizinhas solteironas, e dos beberrões nas calçadas, se voltavam para aquela família. Que depois das desgraças, e do papai contra as pedras, se reerguera como uma rocha. Como uma fortaleza. De concreto.
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