sábado, 17 de agosto de 2013

Moreno

Eu desenhei os teus passos. Te encontrei em um caminho oblíquo, estreito e obscuro. Mas ainda assim, eu consegui me atentar a cada detalhe. A intensidade do teu pisar, a força da tua respiração, a cadência dos teus movimentos. E desenhei, cada um dos teus passos. Em folhas brancas, com lápis negros. Eu reproduzi cada momento do teu andar em vários quadros que demonstravam claramente que sim, eu te observei, moreno.
Soube desde a primeira vez que te vi na multidão. Apesar de tantas luzes, tantos reflexos, eu conseguia ver os teus olhos. E eles brilhavam. Emanavam a paixão que eu sabia, só encontraria nas tuas íris. Que era uma paixão sua, feita sob encomenda para caber dentro de ti, e de mais ninguém. E que cada pulsação do teu coração representava um desejo cada vez maior de estar ali. De ser tudo que você é. De se entregar, a tudo que se propõe.
Soube, quando te vi imerso em olhares e pessoas, que eu te encontraria de novo, moreno. Que sua vida em algum momento iria cruzar com a minha. Que meu olhar encontraria novamente o seu. E eu estava certo, moreno.
Te encontrei em momentos inesperados, em horas erradas, em palavras tortas, em toques descompromissados. Te encontrei na música de fundo, nos corpos coreografados, no som dos aplausos. Nas letras das canções mais fúteis, nos poemas mais aclamados. No recado só pra me desejar um bom dia.
Consegui te ver nos meus sonhos, em uma noite de sono pesado. No fechar dos meus olhos, no meu sorriso bobo, de amor adolescente. Reli os teus olhos e a tua pele e o teu cheiro todas as horas depois que meu rosto quase colou no teu pra poder comentar sobre uma música qualquer em um lugar qualquer, que eu só falei e só contei e só cantei pra poder continuar olhando pros teus olhos, pra ter certeza de que eu não esqueceria qualquer detalhe.
Eu desenhei os teus passos nas folhas brancas, com os lápis negros, e te construí tão lindo, moreno. Observei meus traços, revi os rascunhos, e a arte final.
Rasguei as folhas, joguei-as fora. Eu jamais conseguiria te desenhar, moreno. Te reproduzir. Te refazer em traços de um lápis qualquer, quando és bem mais que um simples risco de grafite sobre uma folha comum. Tu és o sonho, moreno.

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