É aquele velho cheiro de alfazema impregnado nos lençóis da velha cama.
Aquele velho cheiro me remete ao perfume das toalhas dos hotéis de beira de estrada que eu ia parando quando meus pés já estavam cansados demais de caminhar.
Se saí, se parti, se fugi. Como fui, do que fui, e porque fui. Acho que nada disso mais interessa.
Nada disso mais faz sentido, ou tem razão de ser explicado. Nada disso mais te interessa.
Eu acho.
Sempre considerei muito vago dizer que acho algo, mas o que eu posso assegurar sobre você senão a certeza de que eu não sei mais nada?
Desperdicei as minhas válvulas e os meus eixos pra te manter por perto, no meu prazo de validade natural com capricornianos.
Sim, prazo de validade porque você não foi o único a durar duas semanas e de repente, como uma fábula curta numa coletânea gigante de contos, a página virou e eu nem consegui saber o final da história. Qual a moral disso tudo?
Repliquei os meus desejos e expressei todos os tons de sinceridade e de profundidade que me eram possíveis.
Carreguei a imensidão de nós dois numa cápsula do tempo, e planejei enterrar debaixo de uma macieira pra desenterrarmos só daqui há 2 séculos. Não tive tempo de pegar a pá, e você já não estava mais no campo de visão.
Então, eu fui. Coloquei meu piano nas costas, com o pouco que me restava equilibrado nas cordas, dentro da cauda, e segui em passos incertos por novas descobertas.
Desviando de cometas, de foguetes e de mísseis, atravessei o universo pra tentar coletar as lembranças dos tempos em que todo esse vazio não existia.
Estou aqui, então, pra te dizer que cansei da liquidez dos dias desperdiçados.
Que jurei que o que eu sentia por ti era amor, mas hoje admito que desconheço esse e qualquer outro sentimento, e tenho certeza que você também.
Que a superficialidade das relações humanas com todo o ambiente nos tornou fantoches do acaso, e que acreditamos, por meio de padrões, que temos que viver os sentimentos como eles são colocados nas páginas de um roteiro de um folhetim semanal.
E que, por ser mais fácil aceitar o que é ditado, nós deixamos de nos conhecer. De nos entender. E de compreender, de fato, cada curva e cada falha da nossa trilha.
Voltarei a caminhar, então, para seguir a minha procura de lembranças do esquecimento, e te deixo no seu jardim suspenso com cheiro de alfazema, cor de impressão de saudade, e sabor agridoce de despedida.
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