Quem vai te amar, afinal? Se ficou só desde pequeno, se a voz que ecoava os corredores rasgava os teus tímpanos e os enchia de medo, as paredes brancas geram parte do trauma e o pavor não tem rosto mas tem um som que não cessa por mais que você queira esquecer.
Quem vai te amar, afinal? Se o amparo foi pouco, se as vitórias não são dignas de aplauso, mas os fracassos são dignos de açoite, e os verdadeiros sentimentos são engolidos porque não merecem atenção, pra depois ser cobrado confiança, mas de que forma confiar? Como confiar quando o maior confidente são suas próprias palavras, por vezes até suas próprias mentiras e a vida cênica que criou para si mesmo a fim de suportar a realidade que batia na porta e que estava cravada na sua mente ao abrir os olhos, todos os dias?
Quem vai te amar, afinal? Quando você aprendeu, com deveras lições repetidas de desafeto sobre como tudo que você é e representa é errado, é feio, é fora dos eixos, é inaceitável, é imoral, é desrespeitoso, é desagradável, é impossível de lidar, é sem futuro e sem destino?
Quem vai te amar, afinal? Quando você não encontra mais em si o que era necessário para amar a si próprio, pois passou anos da sua vida aprendendo a se desconstruir para se estruturar em algo que você nunca foi, mas que seria mais fácil dos outros te verem.
Quem vai te amar, afinal? Só vai te amar a pessoa que, depois de tanto cultuar as próprias cicatrizes, passar a não mais prostrar-se ao seu passado, recompor-se em cima dos escombros das memórias, e descobrir em si próprio o que é necessário para seguir. A partir deste ponto, quem vai te amar, afinal, não precisará do amor de outros, apenas da força conquistada por simplesmente levantar.
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