terça-feira, 22 de setembro de 2020

a mão do carrasco é a minha

só eu sei o quanto eu quis que você me quisesse, quando nem eu mesmo me queria

você foi gosto na boca, olhar nos olhos, arranhão na mão, beijo no escuro

e também foi desejo distante, segredo velado, paixão platônica, amor unilateral

você esteve incompleto, mesmo quando eu estive inteiro, na medida do meu possível


só eu sei o quanto eu quis que você me quisesse, quando nem eu mesmo me queria

quando eu não me olhava no espelho, e esperei que você me enxergasse

quando não havia amor de fora pra dentro, e eu entreguei tudo que havia de dentro pra fora

quando a solidão era preenchida por coragem pulverizada e noites sem dormir


só eu sei o quanto eu sabotei de mim por viver algo sozinho

me perdi no personagem que criei pra fazer parte do seu roteiro

e nunca consegui ser encaixado no protagonista

virei a árvore na figuração


me autodeprecio tanto para ser notado

que já nem sei mais se me odeio de verdade

ou se me autoflagelo e me destruo

pra que percebam em mim algo bom que eu nunca consegui


só eu sei o quanto quis que você me quisesse, quando nem eu mesmo me queria

só eu sei o quanto eu aprecio ser querido, e preciso lutar constantemente pra acreditar que mereço

só eu sei o quanto eu quero me querer, pra poder querer quem realmente me queira

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