terça-feira, 11 de março de 2025

Ahab, Valjean & o Apanhador no Campo de Centeio

Eu, que tenho dificuldade de pedir ajuda, preciso dizer que hoje está difícil.

Preciso confessar que, apesar do riso largo e da postura altiva, o que mais ecoa dentro de mim, todos os dias, é medo. Medo, desespero e confusão.

Confessar que todas as noites, antes de dormir, reconstruo mentalmente formas de dar fim a tudo isso. Que ainda não encontrei uma que me faça ter coragem de levar o plano adiante. E temo o dia em que eu encontre. Temo que talvez esse dia esteja mais próximo do que imagino.

Sei que é difícil acreditar. Afinal, a máscara social que construí te faz me enxergar de outra forma. Mas foi o único refúgio que encontrei para me proteger da insegurança, que foi se erguendo em mim, tijolo a tijolo, desde que me lembro por gente.

E quando tudo parece ficar insuportável, me agarro à rotina como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira. Faço o que precisa ser feito, cumpro obrigações, rio nas conversas, faço planos que nunca sei se de fato quero cumprir. Mas, dentro de mim, há um silêncio ensurdecedor, um vazio que cresce, mesmo quando estou cercado de gente.

Às vezes, tento identificar o momento exato em que tudo começou a desmoronar. Mas talvez não tenha sido um momento único. Talvez tenha sido um acúmulo lento, imperceptível, de ausências, de palavras não ditas, de medos abafados. E agora, me vejo aqui, tentando juntar os pedaços de algo que nunca esteve inteiro.

Por tanto tempo, achei que bastava seguir em frente. Que se eu me mantivesse forte, ignorasse as dores e fingisse que elas não existiam, elas simplesmente desapareceriam. Mas a verdade é que elas nunca foram embora. Só se alojaram mais fundo, esperando o momento certo para me lembrar que, por mais que eu tente, não posso fugir de mim mesmo.

Por anos, acreditei que eu era imaturo, que minha postura diante da vida era infantil. Mas quanto mais me aprofundo no labirinto da minha história, mais percebo que precisei crescer cedo demais. E de um jeito disfuncional.

Aprendi a me proteger de todas as formas de pressão. Aprendi a silenciar lembranças de toques indesejados. Aprendi a criar versões de mim que servissem às expectativas alheias. E, no meio disso tudo, acabei sem saber o que é real e o que foi inventado para que eu pudesse sobreviver. No fim das contas, quem sou? Onde estou?

A necessidade de sustentar tantas narrativas em silêncio me ensinou que não poderia confiar. Em ninguém. E que, além disso, não poderia precisar de ninguém. Que fraqueza ou insegurança não eram interesses de ninguém além de mim. Que eu deveria carregar esse peso sozinho. Que eu não poderia pedir ajuda.


Mas hoje… hoje eu preciso dizer que está difícil.

E que talvez… talvez eu precise de ajuda.

Mas eu não sei como te pedir.

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