sexta-feira, 29 de junho de 2007

Tempos Tempestuosos

Mais um dos meus contos...

Tormentos

A Verdade Foi Contada
Os Segredos Revelados
As Amizades Mantidas
Os Laços Fortalecidos
Mas Dentro de Sua Alma
Apenas a Dor Permanece

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O menino estava sentado, no mesmo lugar de sempre. Porém, ele não estava ali, de forma alguma. Estava tão distante, em outra pessoa, em outro colégio. O local era tão próximo, mas o que ele queria, era tão distante das suas possibilidades. O que ele queria estava longe do seu alcance. Ele, como qualquer outra pessoa, tinha o poder de mudar coisas maleáveis, mas ele jamais poderia mudar o caráter ou a personalidade de alguém. Ele não poderia mudar a quem ele amava tanto, para que também o amasse. Sabia que teria que vivenciar aquela dor sozinho.
Porém, a hora da verdade ser revelada já havia chego. Havia adiado demais esse momento. No sábado anterior tudo teria sido contado, se o medo não tivesse tomado conta dele. E ainda, ele não poderia contar tudo sem entregar o que havia feito pensando nele. Coisas singelas, dobraduras em papel, tudo iniciado como uma brincadeira para passar o tempo, dele e de 3 de suas amigas de sala, um ensinando o outro a como fazer barcos, pássaros, estrelas, e coisas assim.
E pelo simples fato de que ele não aceitou o convite de fazer barcos com eles, tanto porque eles estudam em locais diferente, quanto porque não sabia fazer, é que os barcos se tornaram objetos que o faziam lembrar daquele que tanto amava. E com este pensamento, 30 barcos foram confeccionados, de todos os tamanhos, com inscri-ções que mostravam sentimentos e coisas assim. Com a ajuda de uma de suas amigas, a que senta atrás dele, conseguiu atingir a este número, e ainda, confeccionar um pequeno balão, uma estrela, e 3 corações, que ele, porém, não ousou entregar.
E naquela manhã, dentro de sala de aula, porém não estando, espiritualmente, ali, ele repensava o que iria dizer, lembrava de como havia sido covarde no sábado e não queria ser de novo naquele dia, e imaginando quão negativamente o outro receberia a notícia.
Imaginava o momento em que o outro olharia para ele com desprezo e o chamaria de abominável, estranho, e que seus sentimentos não eram de verdade, que era um erro de criação ou uma incurável doença neuropsicológica. E então, debru-çou-se sobre sua carteira, e sobre um triste silêncio, ele chorou.
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Enquanto o garoto chorava, ele estava a duas ruas de distância. Jamais imaginava que alguém poderia estar chorando por ele naquele exato momento. Estava sentado em seu lugar, brincando com a caneta entre os dedos. Enquanto um professor estava desesperado em frente à classe tentava dar aula, toda a classe conversava de forma escandalosa e desorganizada. Ele, como alguns poucos, estava em silêncio. Estava pensando em como continuar o conto que tinha começado a escrever. Cada uma das seqüências que dava parecia dar errado. Pensava muito, porém nada lhe ocorria.
Seu silêncio é quebrado quando um de seus melhores amigos vira para ele, chamando-o.
– Então, você vai almoçar com a gente ou não?
– Ah, claro, claro. Já está tudo marcado. Só temos que esperar o pessoal vir lá do outro colégio, por que eu não sei quem de lá que vai com a gente.
Então, ocorreu-lhe um estalo, e lembrou-se de que teria que falar com uma pessoa hoje, pois essa pessoa queria lhe contar algo, algo muito sério, ou pelas próprias palavras da pessoa na mensagem de texto escrita a 3 dias atrás, uma coisa urgente, e que só podia ser dita pessoalmente.
Ele já tinha uma certa idéia do que poderia ser, lembrando da conversa que tiveram na quinta feira anterior. Porém, poderia não ser nada daquilo. Talvez alguém tivesse dito para ele algo, algo que estivesse tentando pôr um contra o outro. Ele apenas desmentiria. Talvez, poderia ser qualquer outra coisa. Independente do tema da conversa, ele pretendia deixar tudo bem. Ele não estava a procura nem de confusão e muito menos de inimizade.
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Durante toda a aula, sua amiga de descendência nipônica, a que sentava atrás dele, o chamava algumas vezes. Certas vezes para lhe mostrar uma música, ou que ela amava tanto, ou Melissa, a música que o fazia lembrar dele, pois ele foi a primeira pessoa com quem ouviu essa música, sentados na cadeira da padaria que se encontrava na quadra seguinte ao colégio do seu tão querido alguém. Outras vezes ela o chamava para lhe dizer que estava indignada com algum de seus problemas amorosos. A amizade dos dois tem esse ponto bom, um sempre tem a paciência de ouvir o outro, e tem a cautela necessária para não serem estúpidos quando dessem conselhos, porém com a rigidez necessária para que a pessoa seja realista.
Em certo momento, os dois iniciaram uma conversa sobre o trabalho que teriam que apresentar no final daquela semana, a forma com a qual mostrariam as imagens, enfim, como seria a organização, e sem perceber, a aula havia acabado.
Então, agora, ele se preparava para ir de encontro com os seus amigos do outro colégio, e principalmente com Ele. Seriam 7 pessoas que iriam almoçar juntas, amigos que pretendiam passar um momento feliz juntos. Porém, para ele, agora seria muito difícil demonstrar alguma felicidade. O nervosismo tinha tomado conta de todo o ser dele. Seu estômago estava embrulhado. Seus olhos, marejados. Seus lábios e seus membros superiores, trêmulos. Seu semblante, apavorado.
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Ele e seus 5 amigos estavam indo em direção a padaria, para quem sabe talvez esperar durante um certo tempo as pessoas que iriam de encontro deles para almoçarem juntos. Ele, um garoto de estatura média, cabelos curtos, rosto fino e olhos serenos e penetrantes. Entre os seus 5 amigos, estavam 3 meninas e 2 garotos. Uma delas era alta, rosto oval, cabelo comprido e com detalhes em roxo, tanto na franja quanto em mechas espalhadas sobre a cabeça. A outra, uma garota de estatura baixa, de origem nipônica, cuja pele tem uma tonalidade bronzeada e cujo cabelo é médio, com uma franja mais curta. A terceira é uma garota de estatura média, rosto fino, cabelos compridos e castanho claros. Entre os garotos, um deles era alto, torso largo, com os cabelos loiros quase até os ombros. O outro era um garoto de estatura média, com os cabelos castanho médios, pele demasiadamente clara e traços infantis.
Estavam todos sentados, olhando para a direção da rua de baixo, esperando que algum de seus amigos aparecesse. Karen, a garota dos cabelos roxos, olhou então uma figura distante que se parecia com alguém que conhecia. Alto, com cabelos que passavam dos ombros, que eram largos, rosto redondo, face macilenta. Então, quando se aproximou e que pode ver seus óculos, teve certeza. Karen e Nyu, a jovem nipônica, deixaram suas coisas no chão e correram para cumprimentá-lo. Agora, que também reconheceu quem chegava, ele sabia que uma hora ou outra suas dúvidas seriam solucionadas, sua curiosidade seria sanada.
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Ele via de longe seus amigos sentados na padaria, talvez esperando para ver quem chegava. Ele sorriu ao ver que quem ele queria que estivesse ali realmente estava. Ou seja, de hoje não passaria. Desvia então seu olhar para a direita e vê que Nyu e Karen correm em sua direção. Ele sorri mais ao vê-las correr, pois amava muito aquelas pessoas que vinham até ele.
– Oi Pai! – disse Nyu, fazendo referência a família que haviam formado entre os amigos.
– Oi Irmão Du! – disse Karen, abraçando-o.
– Hey pessoas! – respondeu calorosamente – Tudo certo?
– Tudo, tudo! – responderam as 2, em uníssono.
Surgem então, atrás das 2, os 4 que tinham ficado na padaria. O jovem alto e loiro, conhecido por todos por Beto, trouxe a mochila até as meninas e estendeu a mão para ele.
– E aí, Eduardo? Tudo bom?
– Tudo certo, e com você, Beto? – respondeu, também sorrindo.
– Indo, indo...
Surge então César, pulando e rindo, tentando derrubar todo mundo, e entrando na frente de Nyu, também cumprimenta.
– Oi Eduardo? Tudo bom?
– Tudo...
– Ah! Que bom que está Bem! – interrompe César, sorridente – Eu também estou bem – diz César, que depois ri bem alto e sai pulando feliz. Nyu olha para ele, e Karen abaixa a cabeça, segurando o riso.
Eduardo abraça Aline, e então vê quem ainda falta cumprimentar. Esse cumprimento seria o último no qual eles se veriam apenas como amigos. Ou eles passariam a se ignorar de alguma forma, ou a sua amizade melhoraria, ou talvez... talvez o que Eduardo queria se tornasse realidade, o que o próprio considera muito pouco provável.
– Olá, Diego – diz Eduardo, apertando a mão de Diego.
– Olá, Du – responde Diego.
Eduardo continua a olhar para Diego, imaginando qual seria a feição daquele rosto quando dissesse o que tinha tão urgentemente que dizer. Ficou assim durante algum tempo, apenas voltou a si quando Diego soltou sua mão.
– Vamos? – chamou Diego, mostrando a Eduardo que o grupo já estava um pouco a frente deles 2.
– Claro, claro – respondeu, envergonhado – Eu nem tinha visto que eles já tinham começado a andar.
Os dois apressaram o passo e foram de encontro aos amigos. Quando se juntaram a eles, Diego foi para o lado de César e Nyu, e Eduardo para o lado de Karen. Todos eles brincavam, riam, diziam coisas engraçadas, menos Eduardo, que se mantinha sério, aflito, ansioso pelo momento, pelo seu momento.
Continuaram assim até chegarem a lanchonete aonde iriam almoçar, todos brincalhões, e Eduardo centrado no seu próprio dilema. Foram então a fila para comprar o que comer. Eduardo disse a Karen que estava tão nervoso que não pretendia comer nada, pois seu estômago estava revirado. Karen disse a ele para comprar algo, que a fome viria.
Após todos escolherem o que iriam comer, sentaram-se a mesa e enquanto esperavam, continuavam com suas brincadeiras. Eduardo sentara-se quase a frente de Diego, e ficava a fitá-lo, com tremendo fascínio. Como alguém poderia ser assim? Ele tinha consciência de que a beleza daquele que amava era diferente, porém essa diferença era tão eminente, tão visível, tão... bela, que não havia como não notar.
Foram então pegar seus lanches. Beto, que havia afirmado que estava faminto, pediu 2 sanduíches, comprovando o que havia dito. Ele tinha muita fome. Todos comeram com certa velocidade, fruto da voracidade que existe na juventude.
Após comerem, foram todos para pegar sorvete, menos Eduardo, Diego e Karen. Karen convidou-os para tirar algumas fotos, e todas ficaram horríveis, e conseqüentemente, apagadas.
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Diego não se sentia satisfeito. Também tinha muita fome, mas pedir outro sanduíche levaria muito tempo. Decidiu pedir um salgado, porém só tinha notas muito altas. Todos estavam na fila do sorvete, mas mesmo assim resolveu perguntar.
– Alguém tem 1 real trocado pra eu comprar uma coxinha?
– Eu tenho – respondeu Eduardo – mas depois que comer esta coxinha eu quero falar com você
– Ah tá, tudo bem. E obrigado – disse, pegando a moeda de 1 real com Eduardo.
Foi até lá, pegou seu lanche, e pagou, porém o preço era 60 centavos, e todo o troco foi entregue em moedas de 5 centavos.
– Toma seu troco.
– Ah, tudo de 5 centavos eu não quero.
– Então tá, é meu agora...
– Pode pegar.
Diego comeu tão rapidamente sua coxinha como comeu o sanduíche.
– Será que nós podemos conversar agora? – perguntou Eduardo.
– Claro.
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Eduardo adiou durante muito tempo, porém agora ele teria que dizer, bastante trêmulo, ele levou Diego até um lugar aonde estivessem longe do alcance da visão da maioria dos amigos.
– Primeiro, eu quero pedir desculpas por ter adiado isso até agora, por não ter dito antes e por ter deixado isso acontecer.
Eduardo olhava para Diego, e percebia que o garoto estava olhando para ele com tanta atenção que chegava a ser incômodo.
– Eu não sei se eu te conheço o suficiente, eu não sei se eu sei realmente quem você é, mas o que eu sei já foi o bastante para que isso que aconteceu acontecesse, eu acho que você sabe o que, não é?
– Sim, eu já imaginava que era isso.
– Certo, então eu não terei que dizer que...
– Não, não se faz necessário
– Tá, eu não sei se aconteceria algo ou não, como eu já disse, eu nem sei se te conheço, mas eu gostaria que nossa amizade não mudasse, que você não mudasse comigo, por que senão eu ficaria pior do que eu já estou. Então...
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Então Diego olha para seu amigo, tentando entender seus sentimentos. Ele já sabia que o garoto o amava, mas ele custava acreditar que talvez um dia ele seria corajoso o suficiente pra dizer-lhe na cara isso.
E ainda, ele não era como o menino, ele não podia dizer que o amava também. Ele não o amava, mas tinha que ser educado, pois não pretendia deixá-lo pior.
– E se continuarmos amigos?
Eduardo olhou para baixo e sussurrou algo que Diego não pode entender inteiramente.
– Por favor, diga-me o que acabou de sussurrar.
– Não é nada, bobeira.
– Se fosse bobeira não ia ter medo de falar. Você disse que ia me dizer tudo hoje. Então fale, por favor.
O garoto olha para ele de forma triste
– Nunca será o suficiente para mim... Meu amor apenas crescerá... Mas eu posso lidar com essa amizade... Eu faço tudo para estar ao seu lado.
Então, o menino sai de perto de Diego, que volta para os amigos como se nada tivesse acontecido.
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Eduardo sai andando sozinho pelas ruas, e sentasse numa escadaria. Pensa por que tinha sido tão idiota a ponto de pensar que Diego iria querer algo com ele. Mesmo se Diego fosse como ele, ele era tão feio e Diego tão bonito, ninguém jamais olhara para ele, quem dirá alguém tão belo. Não, são apenas esperanças infundadas, porém, ele não considera seu sentimento inútil, pois vê-lo, mesmo que não sendo seu, o deixava feliz, vivo, e ao mesmo tempo, triste e sozinho, mas a visão do seu amor apenas aumentava a sua vontade de viver e quem sabe um dia talvez ter alguém tão perfeito como ele.
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Karen sente seu celular vibrando e vê que Eduardo liga para ela.
– Ei garoto, aonde você foi parar?
– Eu precisava pensar... Você pode vir até a esquina agora, por favor?
– Claro, amigo... Claro.
Karen avisa aos amigos que vai encontrar Eduardo e diz que já volta.
Chega até a esquina e vê o amigo mordendo o lábio. Então, Karen sorri para ele, e Eduardo chora.
Karen o abraça, diz para se acalmar, mas nada o acalma. Karen pensa que nunca viu o amigo tão mal, principalmente por causa de alguém. Nesse momento percebe que Eduardo realmente ama Diego.
Eduardo respira, e então fala o que tinha que falar pra Karen:
– Karen, entregue isso pra ele – Eduardo abre a mochila e tira um saco plástico aonde estão as coisas que fez pensando nele – E ah, eu vou embora, por que estou muito mal.
– Tudo bem amigo, melhoras.
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Desde aquele dia, o fatídico 06/06/06, nada mais foi o mesmo. Não, não aconteceu nada do que foi previsto para o dia, nenhuma catástrofe, nenhuma morte sobrenatural, nenhuma possessão, nada. Porém, para a vida dele sim.
Diego passara a ser muito mais simpático, carinhoso, engraçado e receptivo para com Eduardo, e ele tentava retribuir a tudo isto, fingindo estar feliz, para que Diego não percebesse que na verdade estava morrendo, definhando pouco a pouco pela falta do que não veio por parte dele.
Não queria muito por parte dele, queria ao menos poder abraçá-lo. O seu abraço já acalentaria seu coração. Não necessariamente um abraço de namorados, mas um abraço forte e carinhoso de amigos. E quem sabe, ao menos uma vez, sentir os seus lábios contra os dele, mas esse momento não chegaria.
Eduardo tenta superar, tenta esquecer, mas está sendo impossível. Talvez um dia encontre alguém que possa, por um momento, fazê-lo esquecer Diego, mas apagá-lo totalmente de sua vida será impossível, pois acredita nunca ter amado tanto alguém quanto o amou, e dizem que nenhum sentimento tem a mesma intensidade que outro, e este foi forte demais para sequer ser superado.

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