Eu vim te buscar. Eu vim te buscar como prometi. Vim de carro, porque, por mais que more duas quadras da estação, você pode estar trazendo muita bagagem, e seria pesado carregá-la na mão, andando na rua. Eu não sei se conseguiria me carregar por duas ruas depois que você descesse do trem. Eu vim bem cedo, você não me disse qual trem pegaria, qual horário chegaria, mas não tem problema. Eu cheguei bem cedo, pra ver cada um que pular de cada vagão, pra talvez ser você e pra poder te levar pra casa. Sai de casa, o sol ainda não tinha nascido. 5 e pouco da manhã, eu já estava aqui. Nem tomei café em casa, pra não perder o trem das 5:25, que é o primeiro a chegar todos os dias. Você não estava
nele, mas tudo bem. Na verdade, até ri sozinho, pois era óbvio que você não teria embarcado neste trem. Voce sempre odiou viajar à noite. Dizia ter a impressão de que o trem perderia os trilhos por não poder ver o caminho, na escuridão. Mas tudo bem, eu teria o dia todo pra te esperar. Eu não tinha pressa, e o dia estava bem agradável para ficar sentado nos bancos da estação. No intervalo entre as chegadas, tomei um café na lanchonete. Já me conhece, a garçonete, que me sorri, simpática, e, sem perguntar, me serve o café com leite e os dois pães de queijo, que sempre pego. Tomei o café tranquilamente, sei que você não chegaria neste tempo. Já sei o horário dos trens, sem precisar consultar as tabelas. Terminei a refeição rápida, e voltei para o banco da estação. Sempre trago comigo um livro, para ler enquanto espero os trens chegarem. Trouxe um de Herta Müller, "Tudo O Que Tenho Levo Comigo". Sei que é um dos seus favoritos. É um dos poucos que você deixou em casa. Eu nunca o li, por medo de danificá-lo. Lembro de você manuseando-o com todo cuidado, enquanto o lia pela enésima vez. Eu nunca o li, por medo de sucumbir às lembranças. Mas, como talvez você chegue hoje, talvez fique feliz em ver que eu ainda me interesso por tudo que é seu. Ainda bem que ontem era domingo, aí tive tempo de arrumar a casa pra te esperar. Sei como você é asseada, e ficaria enlouquecida com a desordem em que se encontrava nossa casa. E tudo bem, hoje é segunda-feira, e eu faltei no trabalho. Eles já sabem. Todo dia 13 de cada mês, eu venho te esperar. Da última vez que ligou, disse que viria dia 13. Mas esqueceu de dizer o mês. Eu também nem pensei em perguntar. Mas tudo bem, eu venho todo o mês, cuidar cada pessoa que sai de cada vagão de cada trem. Ainda aproveito pra tirar um dia do trabalho. Só me proporcionam coisas boas, a tua espera. Tudo bem, já está um pouco tarde, a hora avança muito rápido quando estou à tua espera. De meia em meia hora, das 5:25 às 23:55, para um trem na estação. São trinta e oito, durante o dia todo. O trigésimo sétimo já veio, e já foi. Talvez você esteja no último. Você também não me disse a hora que chegaria. Mas eu me surpreenderia se você chegasse tão tarde. Você nunca gostou de viajar à noite. Tinha muito medo de sair dos trilhos. Mas, tudo bem, se você não vier. Você me disse dia 13, mas não me disse o mês. Eu fui descuidado, nem pensei em perguntar. Talvez seja só no mês que vem. Eu vou voltar pra te esperar.
nele, mas tudo bem. Na verdade, até ri sozinho, pois era óbvio que você não teria embarcado neste trem. Voce sempre odiou viajar à noite. Dizia ter a impressão de que o trem perderia os trilhos por não poder ver o caminho, na escuridão. Mas tudo bem, eu teria o dia todo pra te esperar. Eu não tinha pressa, e o dia estava bem agradável para ficar sentado nos bancos da estação. No intervalo entre as chegadas, tomei um café na lanchonete. Já me conhece, a garçonete, que me sorri, simpática, e, sem perguntar, me serve o café com leite e os dois pães de queijo, que sempre pego. Tomei o café tranquilamente, sei que você não chegaria neste tempo. Já sei o horário dos trens, sem precisar consultar as tabelas. Terminei a refeição rápida, e voltei para o banco da estação. Sempre trago comigo um livro, para ler enquanto espero os trens chegarem. Trouxe um de Herta Müller, "Tudo O Que Tenho Levo Comigo". Sei que é um dos seus favoritos. É um dos poucos que você deixou em casa. Eu nunca o li, por medo de danificá-lo. Lembro de você manuseando-o com todo cuidado, enquanto o lia pela enésima vez. Eu nunca o li, por medo de sucumbir às lembranças. Mas, como talvez você chegue hoje, talvez fique feliz em ver que eu ainda me interesso por tudo que é seu. Ainda bem que ontem era domingo, aí tive tempo de arrumar a casa pra te esperar. Sei como você é asseada, e ficaria enlouquecida com a desordem em que se encontrava nossa casa. E tudo bem, hoje é segunda-feira, e eu faltei no trabalho. Eles já sabem. Todo dia 13 de cada mês, eu venho te esperar. Da última vez que ligou, disse que viria dia 13. Mas esqueceu de dizer o mês. Eu também nem pensei em perguntar. Mas tudo bem, eu venho todo o mês, cuidar cada pessoa que sai de cada vagão de cada trem. Ainda aproveito pra tirar um dia do trabalho. Só me proporcionam coisas boas, a tua espera. Tudo bem, já está um pouco tarde, a hora avança muito rápido quando estou à tua espera. De meia em meia hora, das 5:25 às 23:55, para um trem na estação. São trinta e oito, durante o dia todo. O trigésimo sétimo já veio, e já foi. Talvez você esteja no último. Você também não me disse a hora que chegaria. Mas eu me surpreenderia se você chegasse tão tarde. Você nunca gostou de viajar à noite. Tinha muito medo de sair dos trilhos. Mas, tudo bem, se você não vier. Você me disse dia 13, mas não me disse o mês. Eu fui descuidado, nem pensei em perguntar. Talvez seja só no mês que vem. Eu vou voltar pra te esperar.
Adoreeeei.
ResponderExcluirFiquei o tempo todo esperando para ler a hora em que eles se encontrariam... mas tudo bem! haha
u.u
ResponderExcluirSou fã de finais tristes.. Adorei o texto, me tocou bastante.
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