Então, me conta o seu dia. Senta aqui, espera um pouco. Não, não vai embora ainda. Eu só queria ouvir um pouco tua voz, te ver sorrir. Te contar que ontem à noite eu sonhei contigo. Que teu cabelo tava comprido, e você me perguntou se eu gostei de você assim. Estava até o ombro, e te deixava com um ar angelical. Emanava um brilho de teus olhos que eu jamais vira antes. Teus olhos me cegavam, tanta luz. Me contou, em meu sonho, que tua vida tava ótima, e que viera me buscar, sorridente.
Me desculpe pela bagunça, eu não estava a sua espera. Não, não precisa ir embora, agora eu não quero arrumar. Não volta depois. É tanta bagunça, que se você só voltar depois de eu limpar tudo, você já terá esquecido o caminho de casa. Não volta depois. Fica agora. Me conta a tua vida. Só de ouvir a tua voz, essa bagunça aqui já parece fazer algum sentido.
Fiquei surpreso quando tocou o interfone, e veio tua voz do outro lado. Fiquei surpreso que eu ainda reconheci a tua voz. Cada linha de expressão que estava se movendo em teu rosto ao me dizer que era você em meu portão.
Não, não faz só uma visitinha. Fica pro jantar. Sei que ainda é de manhã, ainda nem tomei café. Mas já estou convidando pra ficar. Eu tenho tanto pra contar, que talvez, te chame pra ficar uns dias. Pra voltar os dias.
Te falo, os dias passaram voando. Parece que foi ontem, e de ontem pra agora, todos os dias eu chamei teu nome. Em segredo. Pensava em você como um passado distante, mesmo sendo latente.
A rotina mudou um pouco. Passei a ir dormir mais tarde, a acordar mais cedo. Tem feito muito frio à noite. Voltei a ler, a escrever. Não, nunca escrevi pra você. Eu prefiro não eternizá-lo em palavras escritas. Eu não quero lê-lo de novo.
Passei por alguns portos, muitos copos, outros corpos. Me afoguei em rios sem peixes e mergulhei em outras pernas. Calado. Pra não cometer o equívoco de evocar o teu fantasma.
Te evoquei pela primeira vez em sonho. Ontem. E você estava lindo. Acho que estava me preparando para te receber logo pela manhã. Eu não estava pronto pra te receber tão cedo. Teu cabelo cresceu tanto, está pelos ombros. Pelo visto tua vida tá boa, o trabalho é satisfatório, e a novidade é envolvente. Você sorri ao me contar da tua vida, os teus dias, teus novos amigos, os novos lugares, a nova casa, o novo trabalho. Os outros corpos. O novo amor.
Talvez você não tenha vindo me buscar. Talvez não fique pra jantar. Ou uns dias. Talvez eu almoce sozinho. Talvez eu volte a escrever algo que não seja pra você. Talvez eu volte a me exercitar. Ou a estudar. Talvez eu arrume essa bagunça. Ou desarrume ainda mais. Talvez, quem sabe, eu te deixe seguir.
Quer saber? Fiquei boba lendo esse!
ResponderExcluirMuito, muito bom! Adoro quando textos se desenvolvem assim, como se fosse uma enxurrada de acontecimentos, sentimentos, desesperos, etc.
ResponderExcluirbom final de semana amigo :D