Clarisse,
Quando entrei naquele pequeno bote inflável, velho e com um motor extremamente ruidoso, pensei em você. Primeiramente, te imaginei olhando para veículo tão arcaico, e que teria que, dentro dele, encarar corredeiras, e diria que jamais faria aquilo com sua vida, que temia pela embarcação, e pelos dias que ainda viriam. Depois, reparando melhor em como se encontrava o bote, eu percebi que ele se assemelhava, metaforicamente, com teus pensamentos: sempre presos ao mesmo itinerário, corroídos pelo tempo, e apesar de extremamente destruídos e cansados, ainda percorriam sempre corredeiras perigosas, para depois, voltar ao mesmo ponto.
Por quanto tempo você vai caminhar pelas mesmas trilhas destruídas, Clarisse? Por quê parece, até, que te apraz se torturar parada no mesmo lugar, revivendo momentos destrutivos, em vez de destrancar a porta desse quarto, e se permitir vir comigo? Eu gostaria de ter te trazido aqui, para o pantanal matogrossense, Clarisse. Em tempos remotos, você teria se encantado com as estradas de terra, com a aparência de um lugar que guarda diversas memórias, e observaria as folhas de cada uma das árvores, tentando ler nos veios e nas gotas de orvalho a história de um lugar tão belo. Você acharia tudo tão belo, Clarisse, que me diria sorrindo que poderia ficar ali para sempre. Você daria gargalhadas ao ver as flores, e os rios cristalinos. Nesses tempos remotos, quando ainda os séculos não me pesavam os ombros, você teria caminhado de mãos dadas comigo, sem temer as falhas na trilha à nossa frente. Por quantos séculos mais você desperdiçará sua juventude nesse quarto escuro, por medo dos pequenos tropeços que teve em seu caminho? Por esperar que sua vida fosse perfeita, e quando percebeu todas as cicatrizes que começou a carregar, sentiu medo de danificar mais os teus dias?
Te rememorei, Clarisse, ao chegar na Gruta do Lago Azul, e descer os 100 metros de degraus nas pedras. A cada passo, eu te imaginava comigo. Eu te trazia comigo, a cada passo que dava, até encontrar o lago iluminado pelo sol, em meio às pedras, e ver o azul mais límpido que vira na vida, desde a última vez que vi os teus olhos. A gruta é azul como teus olhos, Clarisse. Ao olhar para o lago, eu vi teus olhos. E, em todo esse azul, eu jamais desistirei de me afogar, até o dia que você voltar a me deixar mergulhar.
Com sangue e silêncio,
seu James Dean
Quando entrei naquele pequeno bote inflável, velho e com um motor extremamente ruidoso, pensei em você. Primeiramente, te imaginei olhando para veículo tão arcaico, e que teria que, dentro dele, encarar corredeiras, e diria que jamais faria aquilo com sua vida, que temia pela embarcação, e pelos dias que ainda viriam. Depois, reparando melhor em como se encontrava o bote, eu percebi que ele se assemelhava, metaforicamente, com teus pensamentos: sempre presos ao mesmo itinerário, corroídos pelo tempo, e apesar de extremamente destruídos e cansados, ainda percorriam sempre corredeiras perigosas, para depois, voltar ao mesmo ponto.
Por quanto tempo você vai caminhar pelas mesmas trilhas destruídas, Clarisse? Por quê parece, até, que te apraz se torturar parada no mesmo lugar, revivendo momentos destrutivos, em vez de destrancar a porta desse quarto, e se permitir vir comigo? Eu gostaria de ter te trazido aqui, para o pantanal matogrossense, Clarisse. Em tempos remotos, você teria se encantado com as estradas de terra, com a aparência de um lugar que guarda diversas memórias, e observaria as folhas de cada uma das árvores, tentando ler nos veios e nas gotas de orvalho a história de um lugar tão belo. Você acharia tudo tão belo, Clarisse, que me diria sorrindo que poderia ficar ali para sempre. Você daria gargalhadas ao ver as flores, e os rios cristalinos. Nesses tempos remotos, quando ainda os séculos não me pesavam os ombros, você teria caminhado de mãos dadas comigo, sem temer as falhas na trilha à nossa frente. Por quantos séculos mais você desperdiçará sua juventude nesse quarto escuro, por medo dos pequenos tropeços que teve em seu caminho? Por esperar que sua vida fosse perfeita, e quando percebeu todas as cicatrizes que começou a carregar, sentiu medo de danificar mais os teus dias?
Te rememorei, Clarisse, ao chegar na Gruta do Lago Azul, e descer os 100 metros de degraus nas pedras. A cada passo, eu te imaginava comigo. Eu te trazia comigo, a cada passo que dava, até encontrar o lago iluminado pelo sol, em meio às pedras, e ver o azul mais límpido que vira na vida, desde a última vez que vi os teus olhos. A gruta é azul como teus olhos, Clarisse. Ao olhar para o lago, eu vi teus olhos. E, em todo esse azul, eu jamais desistirei de me afogar, até o dia que você voltar a me deixar mergulhar.
Com sangue e silêncio,
seu James Dean
''E, em todo esse azul, eu jamais desistirei de me afogar, até o dia que você voltar a me deixar mergulhar''.
ResponderExcluirLindo!