além de mim.
tento ver sempre além de mim. além do que eu percebo, de como me enxergo. de como o espelho me reflete. de como minha mente me reproduz e me consome. me consome todos os dias como uma besta faminta pronta para destruir tudo que enxergar pela frente.
afinal, o que é a construção de mim? quais foram os blocos que eu reuni para formar esta estrutura frágil e instável que eu sou? pendo para os lados todos os dias, a qualquer sopro de injúria ou de deturpação que atravessar o meu caminho. pendo para os lados, mas mantenho as janelas limpas e arejadas. por mais que esteja prestes a cair, aos teus olhos eu quero permanecer límpida e impassível. por mais que esteja ruindo, você não vai perceber o quanto as intempéries me afetam.
aprender a ser eu mesmo. é o que eu ouço sempre, é o que eu sempre ouvi. aprender a ser eu mesmo, a amar tudo que eu sou e o que conquistei. mas neste mural de medalhas de honra ao mérito que costumam ver (e insistentemente dizer) que eu tenho, eu vejo apenas uma parede suja e vazia. pronta e ansiosa para ser consagrada e exaltada, mas apenas acumulando mais mofo, espera e decepção.
quando a alma racha o espelho, quando a lágrima tem gosto de sangue, e a garganta fica mais seca que o deserto de Lut no ápice do verão, a vontade de levantar da cama quase inexiste e tentar acreditar que 'hoje vai valer a pena' é quase impossível.
e toca o despertador interrompendo todos os pesadelos e as projeções mais nefastas dos últimos 18 meses. abro os olhos com dificuldade, e com mais esforço ainda viro a cabeça para o lado. são 06h25 da manhã. hoje o dia vai valer a pena.
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