Sou mísero
Sou eco
Sou resto
Sou pouco
Poucos os dias em que encontrei
A sala arrumada
A mobília toda no lugar
Um pouco menos de bagunça
Havia sempre uma carta no chão
Uma peça de roupa no corredor
Um fio de cabelo sobre a mesa
Uma almofada fora do lugar
Um moço qualquer
João Pedro José
Um nome que não conheço
E que não é meu
Sou tantos
Sou homens
Sou nomes
Sou cicatrizes
Há dias eu procurei as fotos velhas
O primeiro dia
Eu ainda me lembro
Eu sei tão pouco
Fui tateando as paredes no escuro
Procurando a porta trancada
Pra olhar pelo buraco da fechadura
Se eu poderia entrar
Um corpo qualquer
Mário Carlos André
Um tronco que eu nunca vi
E que não é meu
Sou prantos
Sou cantos
Sou vazios
Sou abismos
Me escondi em cantos
Onde a luz não me alcançaria
Tornei-me um estranho qualquer
Invadindo minha própria casa
Levantei de mãos vazias
Carreguei as lágrimas nos dedos
Gritei em silêncio, escancarei a boca
Retomei o medo
Uma lâmina qualquer
Paulo Augusto Manoel
Um sangue que eu nunca toquei
E que não é meu
Nenhum comentário:
Postar um comentário