domingo, 31 de maio de 2015

Essência de Partida

Se você é feito de idas e vindas, moreno, talvez não devesse voltar.
Eu fico sempre na janela, esperando ver se as pernas que viram a esquina tem o formato e a cor das suas. Se o movimento dos pés parece com a dança suave que os seus fazem ao tocar o chão.

sábado, 30 de maio de 2015

Sinestesia

Você, com odor de alfazema e sabor de saudades. Tá difícil olhar pra fora, os olhos ardem depois de dias sem abrir os olhos. Foi ruim aguentar as esperas, os minutos, as horas que nunca correm. Nunca correm. Foi complicado estar deitado só na cama fria, sem forças para buscar uma coberta pra me proteger dos sopros frios de solidão que me batiam há todo momento. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Se Você Vem

Se você vem, eu abro as cortinas e deixo o sol entrar. Lavo a roupa de cama, bato os travesseiros para eles não parecerem tão vazios de espuma, coloco o colchão lá fora pra tomar um ar. Passo um pano nas prateleiras, reorganizo os livros e os filmes em ordem alfabética, coloco os cd's de volta nas suas devidas embalagens. Removo os tapetes, passo aspirador de pó no chão, tiro as marcas de mofo e de umidade que se acumularam com o tempo nas paredes fechadas.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ao Pisar o Asfalto

Saí para caminhar em um dia qualquer. Era só mais um outro novo dia. Parara de fazer qualquer coisa há alguns anos. Estudar, trabalhar, me divertir. Não. Minha rotina seguia girando em si mesma num moinho de tédio e comodidade. Eram, inclusive, basicamente as mesmas luzes e mesmas cores que eu via todos os dias, nas mesmas ruas. Não que eu acredite que o mundo parou em tons pasteis para sempre. Acredito, sim, que os meus olhos já tinham criado aquela imagem tão firmemente, que nada mais fosse visualizado além dessa fotografia do tempo. Nesse dia, porém, algo chamou minha atenção, quando ao virar a esquina
Atenção, ao dobrar uma esquina
Aquela música, aquela voz aguda, aquele instrumental cativante. Toda aquela canção parecia conversar comigo, pois eu sorri e 
Uma alegria, atenção menina

terça-feira, 26 de maio de 2015

Fragmentos dos Dias em Além-Mar

Qual é a cor dos teus olhos, pequena?
Houveram vazios e espaços de tempo e quartos vazios e silêncios. Diversos silêncios. Daqueles que ocupam os espaços - de tempo e dos quartos - e que machucam os vazios. Houveram silêncios, pequena, eu sei. Abandonei as responsabilidades, e as palavras compartilhadas, e as páginas rabiscadas dos nossos projetos de seguir em frente, e te deixei.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O.N.I.

Sentiu esse frio? Sentiu? Não? Tá tão gelado que parece que vai congelar meus ossos, e ser possível quebrá-los com as mãos logo depois. Não tá sentindo?

domingo, 24 de maio de 2015

Bastão de Combate

- Meu dia foi bem diferente do que estou acostumado. Meus dias têm tons de frieza. Acho que posso chamar assim. Mas hoje, meu dia teve uma cor azul. Azul, porque sou garoto. Azul, porque o céu é azul. Azul pra combinar com meu casaco. E com a cor do abajour. A-B-A-J-O-U-R. É francês, não é? Eu conheci um francês. Ele gostava de azul. Azul porque o mar tem tons de azul. Agora tudo parece ter mais sentido.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Rotas Opostas

Por que o quarto está tão frio?
Quando, no meio da noite, eu faço essa pergunta às paredes escuras, escuto Ian Curtis traduzir meu questionamento, e seguir sua canção.
Mas, diferente do que ele canta, você não se virou para o outro lado. Afinal, você não mais está?
Onde você esteve por esse tempo todo, afinal?

quinta-feira, 21 de maio de 2015

10 Padre-Nossos e 15 Ave-Marias

Foi ao entrar no carro. Esperei por vários dias, e várias negativas, até que você disse sim. Recorda? Por algum motivo, eu sempre soube. Algo em mim sempre dizia que eu deveria tentar, que eu deveria fugir, que eu deveria ficar, que eu deveria partir. Esse paradoxo interno, essa sensação de chegada e partida, essa sensação de que isso me construiria. De que você me destruiria. De que eu te amaria. Tudo isso - hoje percebo - eu já sabia. Sabia quando você entrou no carro.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cretenses

Quando a hora é um tanto torta, e os dias se arrastam, eu me torno arredio. Eu recuo, eu me afasto, eu fujo até de mim. Em dias como esses, eu compro cerveja em qualquer boteco na rua, e acelero o meu carro bem rápido em direção a todos os muros que encontro na frente. Freio bem em cima. Deposito minha cabeça no volante, com o gargalo da garrafa encostado na boca, e choro e rio ao mesmo tempo. Um dia, quem sabe, um dia. Um dia eu não vou frear. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

segunda-feira, 18 de maio de 2015

La douleur

Je ne suis pas votre amour.
Isso, eu aprendi com muitos socos no estômago e muitos sonos perdidos, virando na cama. Com muitos vícios alimentados, tóxicos e dinheiro consumidos em noites sem dormir, com corpos vagantes e errantes no caminho - meus e de outros -, com canções envenenadas pois estavam na playlist das noites que eu fiquei grudado em tua pele branca e fria e suada.

domingo, 17 de maio de 2015

Sobre as horas passadas

Hoje, eu pensei em sacar todo o dinheiro que me resta do salário que eu tenho pra passar o fim do mês. Pensei em passar na esquina perto daquele hotel onde só param ônibus feios e velhos, e pedir pro cara que fica sentado ali na esquina tudo o que me resta em pó. Acho que conseguiria comprar umas 9 buchas de cocaína. O suficiente pra não dormir os próximos 3, 4 dias. Pra não sentir fome pelas próximas 2 semanas. Pra não acordar pelo menos até a próxima encarnação.