Se você vem, eu abro as cortinas e deixo o sol entrar. Lavo a roupa de cama, bato os travesseiros para eles não parecerem tão vazios de espuma, coloco o colchão lá fora pra tomar um ar. Passo um pano nas prateleiras, reorganizo os livros e os filmes em ordem alfabética, coloco os cd's de volta nas suas devidas embalagens. Removo os tapetes, passo aspirador de pó no chão, tiro as marcas de mofo e de umidade que se acumularam com o tempo nas paredes fechadas.
Se você vem, eu troco o óleo do carro, e volto a abastecer. Vejo a água do motor, confiro a data de validade do extintor, e se os faróis não estão queimados. Calibro os pneus, lavo ele todo - por dentro e por fora -, e deixo brilhando para poder te buscar.
Se você vem, abro as prateleiras, reviro a geladeira. Jogo fora os produtos vencidos, vejo as poucas coisas ainda consumíveis que posso guardar, faço a lista. Vou ao mercado, compro tudo que é necessário, e também tudo que sei - ou que imagino - que você ainda gosta muito. Escolho um bom vinho, algumas caixas de chá diferentes, e bastante café, pois já está frio e, por mais que estar perto de você resolverá isso, sei que gosta de algo quente para tomar.
Se você vem, eu paro de usar o microondas, mando trocar o gás do fogão. Reviro os armários, encontro alguns livros de receita, e escolho algo para fazer. Preparo calmamente a receita, e tempero cada mexida na panela com um sorriso no rosto e com a ansiedade de te ver chegar.
Se você vem, o meu sangue acelera como água em corredeiras, meu peito fica pequeno. Me preocupo com tantos detalhes e com tantos planos e com tantas ideias pra te satisfazer, que me perco em momentos de só querer te prender nos meus braços e isso ser tudo que eu preciso. Eu faço tudo que precisa ser feito, com o seu rosto em minha mente, com os seus olhos em todas as faces que eu vejo no caminho, com as tuas mãos sobre os meus ombros sempre que me olho no espelho.
Se você vem, preciso fazer muitas coisas, organizar a bagunça, porque depois, não conseguirei fazer mais nada que não seja ser seu.
Enquanto você não vem, eu deixo a casa fechada. Não me preocupo com o carro, não irei utilizar. Não jogo fora os produtos vencidos, deixo o podre corroer as prateleiras da cozinha. Não me preocupo com nada, nem muito comigo mesmo. Enquanto você não vem, não sou muito mais que uma memória de mim, deitada num canto da cama, com o desejo e um brilho no fundo da alma, que mantem acesa a esperança de quando você vier.
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