Clarisse,
Quanto o vento frio encosta na minha pele, e os meus pelos ficam eriçados, eu sinto que ainda exite algo de vida pulsando dentro de mim. Em vários momentos destes últimos dias, eu tenho me esquecido que ainda respiro. Fico sem ar, trancam-me as narinas, fecha a traqueia. E aí, essa brisa congelante me faz puxar o ar muito forte,e muito rápido, me deixando ofegante e assustado. Não era a hora de parar de fazer o sangue circular. Ainda não.
Pisando no lago congelado, o mesmo que costumávamos nadar nos dias quentes de verão, me recordo de você dizendo que gostaria de pintar os cabelos de laranja, esperar o lago congelar, se deitar nele, e inventar constelações junto comigo. Como Clementine e Joel Barish. Acredito, porém, que eu não teria medo de cair, se por acaso alguma parte estivesse fina demais para pisar em cima.
Quando pisei no lago congelado, e te lembrei desejando ser Clementine, me veio à cabeça os versos de Alexander Pope. Percebo, então, Clarisse, que você vive como a virgem do poema, "esquecendo o mundo, e pelo mundo sendo esquecida". Com a diferença, talvez, Clarisse, de que não estejas tão sem culpa. E que tua mente não possua o mesmo brilho eterno, que não esteja sem lembranças.
Até quando os teus traumas vão te manter longe dos dias frios, das verdades geladas, das batalhas de estar viva, Clarisse? Até quando vais reprimir os teus sentidos, vais vegetar em teus devaneios, e quantos séculos mais vais perder em tristezas, ao invés de estar de olhos abertos, observando o que restou de tudo que um dia você abandonou?
Se te crês sem culpa, Clarisse, acredite que, por diversos dias, eu te culpei. Por me fazer construir bonecos de neve pensando em tentar te reconstruir, por me fazer cuidar para que as lágrimas não corressem no meu rosto e não se tornassem cristais congelados em minha pele. Por me obrigar a me cobrir com mais cobertas ao dormir, e não ter o teu calor para me aquecer nesse inverno. Mas saiba, ainda sinto o cheiro da tua pele quando me deito, e ainda espero que o teu corpo seja envolvido pelos meus braços.
Com suspiros e silêncio,
seu James Dean.
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