Tenho tentado, à todo custo, oferecer a mim mesmo o amor que eu sempre esperei de ti. Estampei, por muitas vezes, na tua fronte, não o que eu esperava de ti - o que esperava da tua essência, do teu ser, e daquilo que você realmente tinha para me entregar, para me oferecer. Acabei, no entanto, impondo-te, quase que inconscientemente - ou acreditando que seja inconsciente apenas para ausentar-me da culpa de ter feito isso porque eu realmente quis -, a forma daquilo que eu considero correto.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
domingo, 26 de julho de 2015
De Encélado
Clarisse,
Sentindo-me sempre um satélite solitário, orbitando no universo que você construiu com uma explosão de reclusões e silêncios, encontrei companhia nos objetos que flutuam ao redor de Saturno. Ironicamente Saturno, cujos anéis eu tentei, incansavelmente, roubar para dar-te em presente da devoção imensurável que sinto pela tua existência.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
coágulo das infiltrações, V
quando os lobos uivarem
as ondas baterem
os rios se encontrarem
eu vou esquecer
as ondas baterem
os rios se encontrarem
eu vou esquecer
terça-feira, 21 de julho de 2015
Renascença
Foi na cor dos seus olhos. Reconheci aquele brilho desde a primeira vez que olhei. Havia algo cognoscível, algo que eu já havia encontrado antes. Como quando a luz da lua bate no orvalho das folhas, e o reflexo encontrava com a minha retina e me deixava, por alguns segundos, alegremente cego em um arco-íris particular. Ou quando tropecei nas latas de tinta no chão, e colori o assoalho com a paleta dos meus descuidos, do meu susto, do meu desespero, e da sinfonia das tuas risadas com a minha pintura abstrata acidental.
domingo, 19 de julho de 2015
O Desenlace
- Parecia meio turvo quando olhava para o lado
- Aceite o toque e você será perdoado
- Um tanto vazio, um tanto perdido
- Havia luz onde você não enxergou
- Aceite o toque e você será perdoado
- Um tanto vazio, um tanto perdido
- Havia luz onde você não enxergou
quinta-feira, 16 de julho de 2015
(De)formações
Nas gotas de chuva, eu via os reflexos dos dias. Haviam tantos séculos de amargura e silêncio, que eu já pouco reconhecia o que via, mas sabia que toda aquela água, que parecia quase me afogar, me mostrava os dias que eu não vivi. Os dias que não foram. Os planos abandonados, os desejos não concretizados. Eu via tudo que nos envolvia, com os olhos do pouco que me restava.
terça-feira, 14 de julho de 2015
coágulo das infiltrações, IV
tá ecoando nas paredes esse vazio
esses sons perturbadores
esses sussurros do vento
o desejo de explodir
esses sons perturbadores
esses sussurros do vento
o desejo de explodir
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Nas gotas d'água
Você foi pra longe e não deixou uma carta. Abriu as portas dos armários, puxou as roupas com cabide e tudo. Nem se preocupou em dobrar as camisas, que passei com tanto esmero pra que ficassem bonitas pra você ir trabalhar. Jogou tudo dentro da mala, de forma que amarrotasse tanto que nenhuma das minhas marcas ficasse nos tecidos. Deixando a marca da mala no lençol da cama. Deixando as marcas na pele onde você tocava.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
coágulo das infiltrações, III
me deixa aqui
sentindo cheiro de sangue
o velho gosto amargo
o frio das noites mal dormidas
quinta-feira, 2 de julho de 2015
coágulo das infiltrações, II
você que desenha os meus dias
que rabisca sobre as minhas curvas
que desarruma minhas linhas
não me deixe sem respostas
que rabisca sobre as minhas curvas
que desarruma minhas linhas
não me deixe sem respostas
quarta-feira, 1 de julho de 2015
Carta de Fundo de Gaveta; ou as variações de nossas atmosferas
Decidi, quase como uma forma de autoflagelo, vasculhar os velhos álbuns, ontem. O que inicialmente me espantou foram as diversas formas de mim mesmo que encontrei nas velhas fotos. Se reunisse diversas imagens minhas, de todos esses anos desde que coexistimos um na vida do outro, haveriam diversas pessoas diferentes. Uma não reconheceria a outra. Múltiplas variações. Apenas as cicatrizes são as mesmas.
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