terça-feira, 21 de julho de 2015

Renascença

Foi na cor dos seus olhos. Reconheci aquele brilho desde a primeira vez que olhei. Havia algo cognoscível, algo que eu já havia encontrado antes. Como quando a luz da lua bate no orvalho das folhas, e o reflexo encontrava com a minha retina e me deixava, por alguns segundos, alegremente cego em um arco-íris particular. Ou quando tropecei nas latas de tinta no chão, e colori o assoalho com a paleta dos meus descuidos, do meu susto, do meu desespero, e da sinfonia das tuas risadas com a minha pintura abstrata acidental. 
No desenho dos teus traços, revivo sempre os anjos que conheci nos livros. Que visitei nos sonhos. Os corpos sem estereótipos, ao gosto do seu artista. Moldado pela natureza, e pelos hábitos que te competem. Ao meu ver, nos meus entendimentos de apreciador da tua arte, me parece perfeito. Assim como Moisés para Michelangelo, com a diferença de que não preciso de martelo pra te pedir que fale.
Foi na melodia da tua voz. Encontrei alento nas músicas do teu amanhecer, na voz rouca de quando acordas, com algo preso na garganta e a sede que te dá assim que o sol invade as brechas da cortina. Nas tuas risadas longas, nas tuas palavras de carinho. Petrifico em tensão quando a tua voz fica ríspida, e procuro ensandecidamente pela faixa do teu disco em que a doçura volta a embalar os meus minutos, enquanto volto a me envolver em teu braço e a harmonia se torna inabalável.
Nos teus pequenos gestos, nas tuas formas de ser. Em tudo que me encanta, e também no que me assusta. Nas surpresas diárias, nos fios de cabelo perdidos sobre o lençol. Nas tuas verdades sinceras, encontrei alento para as próximas estações, e inspiração para mais vinte e um séculos de versos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário